quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Volta Internacional da Pampulha - Edição 2014

O dia sete do mês passado foi especialmente emocionante para esse corredor metido a blogueiro. Pela primeira vez na vida, eu corri toda a Volta Internacional da Pampulha na companhia da minha filha.
Se para qualquer pai, passar duas horas junto com a cria já é motivo de orgulho, para um pai que gosta de correr, passar essas mesmas duas horas fazendo o que ele mais gosta com quem ele mais gosta - é de arrasar!
Desde que aquela prova acabou, venho pensando em escrever este post. Até tentei fazer isso na segunda-feira posterior à prova, mas o texto ficou parecendo aqueles dramas de novela e eu joguei fora. Preferi esperar um mês, tempo suficiente pra poder registrar a conquista sem excesso de emotividade (esse blog já é meloso demais da conta).
E hoje cá estou eu, olhando para a tela e me lembrando dos lugares, das conversas, da paisagem. Escreverei nos intervalos do trabalho para que, no final do dia de hoje, eu possa deixar registrado o relato daquele que foi um dos dias memoráveis da minha vidinha.


(pausa pro almoço: comi salada de jiló com tomate e fígado de boi - parece estranho, mas tava gostoso pra caramba!)
Nem eram seis horas da manhã e a Luíza foi logo entrando no meu quarto e acordando a gente com um sorriso que misturava alegria com apreensão. Eu fiz de conta que despertava sonolento (fui bastante convincente!), mas na verdade já estava acordado desde muito antes, revirando na cama e imaginando como seria o dia.
Depois de estarmos todos devidamente acordados, subimos pro café e a conversa fluiu animada e descontraída. Meia hora mais tarde, saíamos todos de casa em direção à orla - o cachorro no colo da Eneida e as músicas que a Iza gosta tocando no rádio. Para nossa grata surpresa, a viagem durou menos de dez minutos. Primeira felicidade: conseguimos estacionar bem perto do local da largada.
Conforme havíamos combinado, nos encontramos com o Carlos, a Fernanda e o Tiago. Depois fomos até a tenda da VEM (Assessoria de corredores Vida em Movimento), onde havíamos marcado com a amiga Tatiana. Finalmente, fiquei conhecendo o Roberto, treinador da Tati e diretor da VEM. Ele é a simpatia em forma de gente!  Super atencioso e gentil. Nos fez sentir tão à vontade (mesmo não sendo filiados à VEM) que ficamos até sem jeito. A Tatiana não poderia ter encontrado um treinador melhor.




Ficamos algum tempo com eles e então nos dirigimos para a largada. Quinze minutos antes do início da corrida, entramos no funil e caminhamos em direção ao meio da multidão de uns 15 mil rostos que estampavam ansiedade nos minutos que antecediam a partida.
Que mundo pequeno esse em que vivemos! No meio daquele montão de gente, eis que encontro com o Stefan, com o Miguel (grande amigo do Blog Baleias) e com mais um amigo. Se houvéssemos marcado encontro, talvez não conseguíssemos nos achar...
Cinco minutos para a largada. Estávamos bem aonde eu queria: no meio do bolo! misturados com a multidão de anônimos que, tal como eu e a Iza, iria fazer o que gostamos de fazer: desafiarmos a nós mesmos. Correr em busca da satisfação de superar nossos próprios limites, de mostrar pra nós mesmos o quanto nos sentimos vivos!
O sinal soou forte. Aquela musiquinha do Globo Esporte começou a tocar num volume super alto e aquilo fez meu corpo arrepiar. A Luíza olhava pra mim, olhava pro Carlos (super amigo que nos acompanhou no quilômetro inicial) e sorria igual criança! Percorremos quase um quilômetro até que a aglomeração diminuísse a ponto de podermos realmente correr.
Víamos gente fantasiada, gente sorrindo, gente séria. Gente brava, gente alegre.  Gente cantando, gente emburrada. Era gente pra todo lado!
O ritmo lento, por conta do acúmulo de corredores, nos deu a oportunidade de relaxar e curtir a corrida que, naqueles quilômetros iniciais, era mais um passeio do que uma prova de superação.
Até que as placas indicativas da quilometragem foram se sucedendo - e a algazarra dos instantes iniciais foi dando lugar, como em toda corrida de longa distância, a momentos de introspecção e de reflexão. Pra mim, essa é uma das melhores partes das corridas.
Nem bem completamos o quarto KM e vimos um corredor sentado no canto da rua. A prótese que ele usava em uma das pernas havia se soltado e o sujeito estava desconsolado. Como várias pessoas já estavam ajudando o moço, decidimos prosseguir correndo.
A primeira metade da prova transcorreu de forma tranquila. Nós corríamos e conversávamos. Não me lembro de ter me sentido tão bem na vida...
Até que a placa do décimo quilômetro surgiu. Correr por uma hora ao redor de tanta gente deixa marca - principalmente em quem vive experiência pela primeira vez. A Iza sentiu. Ela ficou caladinha, mas dava pra ver que estava cansada. Eu perguntava: "tudo bem?" - tudo bem, paps! Menina valente, aquela! Ela havia colocado na cabeça que correria sem parar pra nada. Como eu já descobri que ela herdou de mim o gene que endurece a cabeça, fiquei preocupado porque sabia que - assim como eu - a moça até correria com dor, mas não iria parar facilmente. E assim prosseguimos, um km depois do outro. Vez ou outra dávamos de cara com um dos fotógrafos da prova, mas mal olhávamos para a câmera e o cara já havia ficado pra trás (parar jamais!).
Foram duas horas mágicas. Incrivelmente mágicas! Fantásticas!
Não dá pra colocar isso num texto. Com meus parcos dons artísticos e meu vocabulário limitado eu não conseguiria expressar em palavras o sentimento daquela manhã. Seria como tentar explicar o gosto de gengibre pra quem nunca provou gengibre. Não, nem é isso. É bem mais intenso. Há uma frase atribuída a Bob Marlei: "Explicar o que eu sinto é quase como tentar explicar as cores para um cego".
Já pensando que isso seria impossível, eu comprei todas as fotos que encontrei nos sites. Vou postá-las aqui, porque elas falam mais do que as linhas desse texto que tentou descrever o indescritível: duas horas e onze minutos (ah, como eu queria que demorasse mais!) de pura, autêntica e genuína felicidade.

Se você ler isso, receba meus parabéns, filha! Você sonhou alto, treinou duro e conseguiu! Agora você já sabe o quão verdadeiro é o dito que afirma que "tudo que um sonho precisa para ser realizado é de alguém que acredite que ele possa ser realizado". Eu amo você!