sábado, 28 de janeiro de 2012

Segunda Decisão


Hoje faz exatamente uma semana que escrevi a última postagem aqui no blog. Ficar tanto tempo sem escrever me deixou com muito assunto, muito caso pra contar.
Então peço paciência (outra vez?!!) ao leitor amigo, porque prevejo que este será um texto longo!

São 10:34 da manhã e, diferentemente da semana passada, meu humor está excelente! Estou assistindo à aula de judô do meu filho enquanto escrevo estas linhas
(ops, um menino acaba de derrubar o El). Antes de vir pra cá, corri 18km pela orla da Pampulha. E é sobre isto que quero falar hoje.

Antes porém, preciso comentar um acontecimento que reavivou meu ânimo para os 42km do Rio: eu já me sinto honrado com a presença dos corredores Carlos
(parceirão de toda corrida) e Yeda aqui no blog. Diferentemente de mim, que corro apenas pra não enlouquecer, os dois são atletas, e treinam (treinar é
muuuuito diferente de calçar o tênis e sair correndo por ai) diária e seriamente. Eles têm treinador, seguem planilhas e fazem musculação.
Me sinto realmente feliz quando eles entram aqui e deixam um comentário, uma dica ou uma palavra de apoio.
Nesta semana, fiquei ainda mais feliz ao ver que - ninguém menos do que o Ultra maratonista Jorge (www.jmaratona.com) apareceu por aqui e, não só leu meu texto,
como ainda me deixou um comentário com dicas importantes. Para quem não corre, isto pode parecer bobagem, mas para quem está acostumado (ou se acostumando,
como euzinho aqui) a percorrer sozinho distâncias longas debaixo de chuva ou sob sol forte, lembrar que existem pessoas que você nem conhece pessoalmente
torcendo pelo seu sucesso - acreditem - faz um bem danado! Durante a corrida de hoje, que foi das mais longas - e também mais gostosas - lembrei de todos
vocês.
Jorge, agradeço de coração sua presença neste espaço. Seu sucesso me dá ânimo, e me motiva a continuar correndo em busca de meu objetivo pessoal.
Yeda, digo o mesmo a você. Obrigado por sua constante companhia.
Carlos, não preciso nem dizer que minha perseverança nesta "causa" se inspira em você. Sua responsabilidade é grande aqui.
Tia Rita, se não fosse por você, este blog já não existiria mais.
Eneida, você me iniciou no "maravilhoso mundo" dos blogs. Devo muito a você.
Pai, se eu conseguir chegar - será por você.
Mãe, cuida do pai ai - que eu preciso dele inteiro pra me ver (me ler:) ) chegar.
Iza, El... parem de ficar me batendo! Isso dói! :)

Depois da "sessão-emoção" (adoro quando a Yeda usa essas expressões no blog dela!), me deixem voltar para o assunto das corridas.

O Garmim marcava 7:17 quando comecei a correr. O tempo nublado formava o cenário ideal para uma corrida relaxante. E eu estava precisando muito disto. A semana
foi difícil, muito difícil. Discussão feia com a esposa por bobagem (foi mal, Beim), dificuldades no trabalho, falta total de tempo pra correr (só consegui
correr uma vez, na terça feira. Droga!), falta de tempo pra comer, e até pra respirar direito. Problema com o vidro elétrico do carro que cismou de não abrir
justo quando o automóvel estava rachando no sol do meio-dia (aquela foi fod#@!). Mas nada disto é problema, perto do susto que levei quando um dos operários
caiu do andaime na obra.
Felizmente está tudo (relativamente) bem. Apesar de ter sofrido uma queda feia, ele não quebrou nada e só terá que ficar algum tempo de molho. Quem é pai já
passou por esta situação: seu filho faz uma coisa errada e se machuca, ai você não sabe se fica puto da vida com o menino, ou se o abraça e dá graças a Deus
por não ter sido nada muito sério.
Quando recebi a notícia da queda, o irmão do "Esquerda" já estava no hospital João XXIII. Eu rezei para que ele ficasse bem, e me dei conta - mais uma vez - da
responsabilidade que está sobre meus ombros. Assim que recebi nova ligação do mestre de obra dizendo que estava tudo bem, minha reação mudou da água para a...
urina! Fiquei invocado! Meu pensamento era: "Pô, eu gasto rios de grana comprando cintos de segurança, luvas, fechando fosso de elevador... E o manezinho não
prende a josta do mosquetão porque "está muito quente"... E depois ainda ficam dizendo que eu "tenho andado nervoso ultimamente"...

Mas voltemos à corrida:
Fiz um rápido (rápido mesmo!) alongamento (basicamente, foi só para constar nos autos) e comecei a parte gostosa da coisa. Hoje eu estava experimentando uma
borrachinha nova do meu fone de ouvido (ele vem com 4 pares, para acharmos o que melhor se ajusta) ultramoderno e estava ansioso para ligar logo o Ipod.
Mas acho que eu errei ao encaixar a danada, porque - logo no segundo km o fone direito começou a incomodar. Fiquei empurrando a coisa para dentro do ouvido,
sem obter muito sucesso.
No quinto km aconteceu o acidente. Resolvi tirar o fone para ver se havia algo errado e... a borrachinha ficou no ouvido! Putz, que aflição! Parei na hora,
virei a cabeça para baixo, para o lado... tentei tirar com o dedo. Nada funcionou. A aflição só aumentando.
Nesse momento pensei no que o Jorge Maratonista faria. E pensei no que EU faria se isto acontecesse durante a corrida.
Eu não desistiria. Com aflição ou sem aflição, eu iria até o fim. E assim fiz. Tirei o outro fone, desliguei o ipod e continuei o treino.
Os primeiros quilômetros foram chatos, e eu me senti solitário sem ninguém cantando pra mim. Nessa hora, não sei se foi por causa do sonho que tive com a minha
fantasia (irei a uma festa à fantasia hoje, e - não contem pra ninguém: eu vou fantasiado de MORTE! Amanhã prometo fazer outro post e colocar fotos da festa
pra quem se animar a ver), ou por estar correndo sozinho e sem música, mas senti uma... presença ("agora danou!" Você certamente deve estar pensando. "O blog
do cara agora virou 'sobrenatural!'").
Mas eu senti mesmo uma "presença". Isto é, senti uma OUTRA presença, além da do pedaço do fone encravado no meu ouvido.
Obviamente foi coisa da minha imaginação, como o "amigo imaginário" das crianças. Esse meu amigo invisível andava (sim, eu correndo e o danado ANDANDO! Até na
imaginação eu levo ferro!!) ao meu lado. Usava uma capa marrom, com um capuz igual ao da minha fantasia (foi por isto que minha imaginação "fertilizou") e
tinha um ar calmo. Ele ficou um tempão comigo, e falou que eu deveria enxergar a vida de um outro lado. Disse que ela (a vida) está tentando me mostrar muita
coisa, mas eu estou tão preso no meu mundinho que não consigo (ou não quero) ver.
Na hora lembrei de pessoas que conheço, que perderam casa e móveis nas inundações de Janeiro. Lembrei do irmão do Esquerda, que foi salvo por milagre de Deus.
Lembrei do meu outro funcionário na construtora, que perdeu a mãe de forma repentina.
E eu pensando que trocar o interruptor do vidro elétrico era o fim do mundo. Me senti pequeno e fútil.
Mas não, ao contrário do que você pensa, eu não chorei nem fiz beicinho. Sorri pro monge-corredor-encapuzado e segui ao seu lado.
Como vejo muito filme de aventura, minha imaginação foi longe naquela hora, e eu dei corda. Em meu devaneio, o companheiro me convidou a aproveitar que eu
estava sem os fones para "ouvir o que está ao meu redor" (isto sim, é frase de filme!).
Depois ele sugeriu que eu tirasse os óculos, o que eu - obviamente - não fiz. Ele só sorriu, e o sorriso dele era calmo, gostoso.

Como em todo bom filme, o sujeito simplesmente evaporou - e eu fiquei sozinho comigo mesmo pelos 9 quilômetros finais. Acabei usando esse tempo pra pensar na
vida, ao invés de curtir a corrida.
Tomei a segunda importante decisão desde que iniciei a empreitada rumo à maratona (a primeira foi justamente a de correr os 42km): procurarei melhorar a mim
mesmo.
Tentarei pegar mais leve, e dar às coisas da vida apenas a importância que é devida a cada uma, sem exagerar; sem me estressar em demasia.
Tentarei curtir mais a esposa, os filhos, os amigos.
Assim como a preparação para a maratona, esta certamente não será tarefa das mais fáceis (eu sou cabeça dura pra caramba). Mas estou decidido. Eu vou tentar,
vou dar o meu melhor.
É nóis.

Imaginário ou não, agradeço ao senhor que correu comigo sem se cansar, e que me abriu os olhos.
Ah, um detalhe: no último quilômetro começou a chover. A chuvinha fina molhou as lentes, e eu fui "meio que" obrigado a tirar os óculos, justamente como o
monge da minha imaginação queria. Vai entender...

8 comentários:

Marcelo Pizarro disse...

Toninho... eu sabia que vc tava ficando velho.. mais agora GAGA??? la na fabrica voce nao viu esse mesmo senhora nao ne?? rsrs to com precentimento que hoje a noite ele estara presente rs.. Abraços e RUMO A MARATONA RIO!!!

Anônimo disse...

parabens Toninho, vç está mesmo firme e forte,continue sempre assim,com as bençãos de Deus irá longe, parabens. Corredor tem q. fantasiar de vida alegria- de morte credo, quem inventou isso deve tar lélé. bjs de s/ mãe

Anônimo disse...

Parabens Toninho,meu filh0 qurido, nunca desanime,pois, a vida é luta, e somente, quem luta vence. abraços de seu pai.

Eneida Freire disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Eneida Freire disse...

Meu BeinS2,
Como acredito que o acaso não existe, penso que o 'acidente' com o fone de ouvido tenha sido providencial.
Afinal, o 'único' jeito do monge fazer-se ouvir, se bem te conheço! :)
Escutar os ruídos e os acontecimentos do mundo é muito importante.
É um estar atento ao seu redor.
A vida passa rápidamente.
Veja bem, o ano mal começou e já caminhamos para o segundo mês!
Vivemos melhor quando valorizamos as pequenas coisas, os pequenos ruídos e até as pequenas corridas, as pequenas distâncias percorridas, que podem e com certeza são grandes vitórias.
Acredito que o convite do monge para escutar o mundo como ele se apresenta e sentir prazer com ele e não apenas com as músicas que você mesmo escolhe pode ser bem interessante.
E de vez em quando a gente tem mesmo que tirar os óculos, parar de ver o mundo sob a ótica a que estamos acostumados e ver com os olhos da alma.
Acredito que você tenha tido uma parceria inteligente na corrida, que te mostrou mais facilidade diante dos desafios, pois enquanto você corria o percurso da vida naquele momento, foi mostrado que pode fazer o mesmo percurso deslizando... como ele, o monge, o fez.
Parceiro inteligente esse!
Vou aprender com os ensinamentos que ele te passou também.
Obrigada por compartilhar conosco os ensinamentos!
Pra mim, valeu!
Bom, o blog é seu e não meu, né?! Hehehe
Preciso parar de falar!
Beijo, BeinS2!
Boas corridas!

Tia Rita disse...

Como sempre, amoooo ler seus posts aki... e tb estou dando graças a Deus, pelo livramento que ELE deu ao seu funcionário que caiu...penso que vc deve dar uma boa "chamada" nesses operários ou até mesmo fazê-los assinar um termo de compromisso de usar os equipamentos de segurança... aaah neeeem....!! ninguém merece passar por um sufoco que vc passou...
quanto ao monge corredor: "ái que meda!!!!!!!!!"...rsrsrs...
beijo gde e vamu q vamu!!!!
Dinda

Carlos Henrique Diniz Ferreira disse...

Toninho, a corrida é uma forma de nos mostrar que somos capazes de conquistar o que desejamos... nos mostra a grande lacuna que existe entre o querer e o fazer... a corrida nos dá auto-confiança e motivação... temos sempre estar motivado e confiante, assim vencemos as difculdades mais facilmente. Correr sem musica, as vezes é bom, é um momento sem interferências, somente você e os amigos virtuais, e nessas horas é que temos grandes lições, paramos e pensamos na vida, nas nossas atitudes e o que fazer para melhorar, afinal, são duas horas e meia correndo... é muito tempo.
Ahh... e fala pra esse monge aí me acompanhar também, se possível com uma garrafa de gatorade!

Antonio Horta disse...

Gente, valeu pelos comentários!
Com todos vocês torcendo, a maratona do Rio ficará MUITO mais fácil!
Com música ou sem música, "vamo que vamo"!