Estou off-line enquanto redijo este texto,
então me ponho a pensar... Quanto tempo faz desde a última vez que escrevi algo
no blog? Mais de um ano? Talvez...
Se por um lado sinto-me realizado ao
lembrar do último post onde narrei minhas peripécias na mais longa corrida que
já participei (os 42 km da Maratona do RJ), por outro lado sinto que perdi
muito ao abandonar o blog, este meu diário pessoal. As cenas corriqueiras que
vivi com a família, alguns dos momentos de êxtase ao correr sozinho pela orla
da Pampulha, as trapalhadas com os fones de ouvido (sim, ainda tenho problemas
com isso!)... Tudo isto poderia ter ficado registrado no PrimeiroKM, mas eu -
em minha infinita preguiça - fui deixando a vida passar...
Agora estou confortavelmente deitado na
rede da casa da praia (Piúma Inesquecível, obviamente!) lembrando do breve e
inesperado encontro que tive no domingo com meus tios Gilberto e Rita (a Tia
Rita, minha eterna madrinha maratônica) no meu restaurante preferido, "a
verdadeira comida chinesa". Foi um momento breve. Breve mas descontraído e
gostoso. Se eu não colocar isto AGORA no papel (digo, no blog) será um momento
que se perderá nas minhas lembranças daqui a um ano ou dois.
Mas por que lembrar disto daqui a dois
anos?
Porque eu QUERO me lembrar! Foi por isto
que criei o blog-diário, e é justamente por isto que o estou reativando agora
(isto é, assim que eu achar uma lanhouse!).
Já que este é, ou deveria ser, um blog
sobre corrida de rua, começo dizendo que já estou inscrito na meia-maratona de
BH - edição 2014, que ocorrerá dia 11 de maio. Esta será a prova mais longa que
participarei desde a maratona (já fiz outras provas de 21 km, mas não mais
longe que isto) e é também uma das corridas que mais gosto!
Estou treinando (ou tentando fazê-lo) na
praia durante esta semana. O pai do meu amigo (que também era meu amigo) morreu
há 15 dias após lutar por mais de um ano contra um câncer. Passei as últimas
semanas pensativo... E resolvi tirar uns dias de folga e fugir pra cá com meu
pai e minha mãe.
Folga da mãe! |
Viemos na segunda-feira, no batmóvel da
Luíza. A viagem foi muito gostosa (eu ADORO dirigir na estrada. Adoro!), mas
foi puxada demais para o meu pai. Ele tem Alzhimer, e sua mente ficou confusa
desde que chegamos. Ele está bem, se alimenta direito, não sente dor alguma,
mas às vezes não se lembra onde estamos. Ele olha para a varanda da casa, seu
olhar se demora observando as redes... então ele comenta: "Esta é a casa
de Rio Casca!" (cidade natal dele, onde ele nunca mais voltou desde que eu
tinha 10 anos e meus avós morreram). Minha mãe explica com paciência que esta é
a casa da praia, que ele comprou pra ela há muitos e muitos anos. Dá um nó na
minha garganta e, coincidência das coincidências coincidentes - entra uma
areinha no meu olho nessa hora. Dói um pouco.
Acho que dói porque eu podia ter
aproveitado mais dele enquanto tive chance. Passei tanto tempo na vida tentando
mostrar pra ele que eu fiz direito o que ele ensinou a fazer: trabalhar,
escolher uma mulher bonita, casar-me com ela, trabalhar mais, criar filhos e
vencer na vida. Passei tanto tempo fazendo isto que não vi quando ele começou a
envelhecer. Deixei passar essa parte, e agora eu tô vendo que essa corrida não
vai voltar mais pra mim...
Lanchando na estrada |
Mas pera ai! há também a parte boa, sô!
Aliás, toda a viagem tem sido "a parte boa". Começou na própria
estrada: eu havia preparado com muito cuidado uma seleção de músicas que eu
achava que eles iriam gostar. Deu tão certo que eu vi meu pai pelo retrovisor
(ele e minha mãe foramm no banco de trás) batucando com as mãos o tempo todo
enquanto minha mãe cantava os sambinhas do jeito dela. Paramos pra lanchar uma
ou duas vezes, e então decidimos fazer outra parada para almoçar. Era uma
churrascaria na beira da estrada, mas o balcão de saladas estava bonito
(parecia tudo fresquinho) e decidimos ficar lá. Meu pai comeu bem, riu um
pouco, resmungou um pouco. Uma hora e vinte depois, pegamos a estrada
novamente.
o Batmóvel da Iza |
Enquanto eu dirigia, minha mente viajou na
maionese até um tempo em que ele era quem dirigia o carro nessa mesma estrada.
Tínhamos que lanchar rápido (lembro particularmente de uma vez em que minha
namorada foi conosco... Ela ficou puta da vida porque sempre tinha que largar o
salgado na metade porque meu pai estava impaciente para prosseguir a viagem.
Era constrangedor naquele tempo).
Em minha mente, eu fiquei bravo com meu
pai no retrovisor. Por que é que tudo tinha que ser às pressas? A viagem na
maionese prosseguiu: o que será que EU herdei desse comportamento? Sou bravo
demais com as crianças... Eu quero melhorar isto. Aliás, eu TENHO que melhorar
isto enquanto ainda posso...
As horas se passam, fica todo mundo
quietinho dentro do carro (será que eles ouviram meu pensamento? Ou será que
minha cara de mau me denunciou?). Em determinado momento olho pelo retrovisor e
vejo os dois dormindo. Pego o iPhone e consigo registrar a cena para a
posteridade.
Tirando um cochilo |
Minha mãe dorme um sono gostoso no ombro
dele. Do jeito dele, ele conseguiu. Sempre foi bravo, turrão, duro. Mas tinha
alguma coisa dentro dele que fez com que ela o acompanhasse, que aprendesse a
gostar dele, a confiar nele, a cuidar dele. Meu pai sempre foi um cara honesto
e trabalhador. Nunca presenciei um momento sequer em que ele se aproveitasse de
alguma situação para 'levar vantagem'. "Água dá, água toma", dizia -
referindo-se a uma enchente que levou a casa de um político corrupto em sua
cidade natal quando ele era criança.
Aqui em Piúma a vida tem sido boa. Sinto
verdadeiro e sincero prazer em fazer pequenas tarefas manuais e, com elas,
ficar perto dele.
Eu dou banho, levo ao banheiro, troco a
roupa, limpo. Também arrumo a cozinha (sou PERFEITO nisto!) e desenvolvi
sozinho (após uma experiência inicial desastrosa) uma técnica que me permite
fazer suco de laranja com mamão para ele (é bom para o intestino). Tenho feito
todos os dias e ele parece gostar muito.
Hoje, além de dar o banho, eu fiz a barba
dele. Fui uma coisa tão intensa, tão marcante, que até agora eu fico engasgado
de pensar. Exceto por uma única vez há alguns anos, quando ele esteve internado
no hospital, eu nunca fiz a barba dele. É um pouco como se eu fosse o pai
agora.
Dói.
Mas tem a parte boa também: pela primeira
vez na vida (antes, no hospital eu usei barbeador elétrico) eu pude passar a
mão pelo rosto dele. Foi gostoso. Foi gostoso pra caramba!
Depois do lanche, fomos à praia. Minha mãe
nadou no mar e caminhou enquanto eu e ele ficamos lendo e tomando água de côco,
ele me repetindo sempre a mesma reportagem do jornal.
Consegui ler bastante e preparar boa parte
do meu trabalho do próximo sábado.
Por volta do meio-dia voltamos pra casa e
eis-me aqui, deitado na rede (morra de inveja!!!) olhando as pessoas passarem
na rua.
Eu lavei a roupa! |
Hoje eu acordei às 4:40 (depois de ter ido
dormir exatamente à meia-noite, por ter ficado conversando na varanda com minha
mãe. Mas essa história eu escrevo depois. Não há como esquecer) e fui para a
beira da praia esperar o sol nascer.
O espetáculo começou às 5:30h, e foi um
show incrível! Tudo muito bem ensaiado: as luzes batendo nas nuvens, a ilha
estava no lugar certinho para que o astro principal pudesse surgir atrás dela!
Quando ele apareceu na tela, foi raio de luz pra tudo quanto é lado! As
fachadas dos prédios foram iluminadas, a luz intensa refletia na água do mar
deixando um brilho indescritível! Um show só pra mim e para os poucos
pescadores e turistas que acompanhavam a cena. Uma coisa absolutamente
corriqueira, um show que acontece todo dia. Totalmente grátis e sem sorteio! E
que quase ninguém vê! Muitos até olham, mas pouca gente enxerga isto com os
tais "olhos de ver". Hoje eu vi! Sorte a minha!
Somente hoje estou conseguindo postar o
texto. Chegamos bem de viagem e já estou no lerê. Esta semana terei pouco tempo
pra correr, mas pretendo dar a volta na Pampulha (18 km) no domingo. Depois eu
conto como foi!
Esta vista é incrível! |
5 comentários:
Ebaaaaa! Fiquei tão feliz de vc voltar a escrever, que estou aki postando antes de ler! Kkkkk
Depois farei comentário !
Bjo
Tia Rita
Toninho.... Toninho .... Toninhoooooo!!!
Somente agora pude ler e com muita calma seu relato!!
E como demorei pra concretizar minha leitura!!!
As lágrimas.. O pranto... O soluço... Toda hora me faziam parar !
Que clareza de expressão! Que pureza de alma!
Que facilidade de colocar no papel seus mais íntimos sentimentos!! Que coisa mais lindaaaaa!
Sabe o que eu acho?
Vc deveria catalogar tudo isso e escrever um livro!!
Cujo título seria mais ou menos assim: " Ensinando alguém a ser filho " (sem nenhuma pretencao eh lógico)
Acredito mesmo que vc ajudaria muitas pessoas a refletir e procurar ser sempre melhores!
Que Deus abençoe sua vida e que o Rafa
se espelhe sempre em você!
Eu e minha mana somos privilegiadas por termos filhos como temos!
Sem mais!
Beijos
Tia Rita
Obrigado pela dica do livro, Tia Rita! Mas antes eu tenho que conseguir correr a prova!!! :)
Muito obrigado pelo apoio!
Ôpa!
Gostei do "escolher uma mulher bonta"!
Hehehe
Beijo, beinS2!
Vasculhando o blog!!!!
Lindo relato da viagem, me fez pensar em tempo perdido e como é angustiante saber que em tudo estamos (estou) perdendo tempo, mas ainda não sabemos (sei) como parar essa perda. Talvez falta de vontade? O fato é que estamos (estou) deixando o tempo passar e isso não está legal.
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