Caro leitor, ainda não falei aqui no blog sobre o motivo que
me fez ficar um bom tempo sem escrever nada sobre corrida. Eu ganhei uma fasceíte
plantar (inflamação da fáscia - na planta do pé) que me deixou sem correr nem
caminhar na rua por 45 dias. Pra complicar, as radiografias mostraram que se
desenvolveu em mim uma calcificação excessiva do osso do calcanhar conhecida
como "esporão do calcâneo". Em termos menos técnicos: eu me ferrei
todo! Tive que dar adeus ao sonho da maratona no Chile em 2015 (não poderei
correr maratonas por um bom tempo) e só agora estou voltando a treinar.
Mas tudo nessa vida tem um lado bom, né? (menos os LP's do
Pink Floyd, que tinham os dois lados bons!) pois não é que depois de todos
esses anos correndo sozinho, minha filha me deu o maior presente que um pai
poderia ganhar, ao dizer que queria correr - junto comigo!!!!
Pois sim! A moça decidiu ingressar no maravilhoso mundo das
corridas de rua, e eu ganhei o melhor presente: ganhei uma filha companheira de
treinos! Ganhei uma amiga! Doido demais, né?!?!
A gente começou a treinar junto em junho. Como ela fazia
musculação há alguns meses, estava em boa forma física, de modo que já em julho
fez sua primeira prova, fechando os 5km do circuito das estações em menos de 30
minutos. Eu estava treinando com ela e me inscrevi na modalidade de 10km. Só
que eu me distraí durante o percurso e, quando olhei pro relógio no quinto km,
meu ritmo era de 5:30 min/km. E ai eu fiz a besteira: pensei, "que legal!
Posso impressionar a Luíza e fechar a corrida em bem menos de uma hora". E
assim eu fiz, mantive o ritmo e terminei os 10km em exatos 55 minutos, bem
abaixo dos 6:40min/km em que gosto e costumo correr. O resultado não podia ser
outro: assim que o corpo esfriou meu pé esquerdo não conseguia sequer tocar o chão,
de tanta dor!
Depois de muito tempo de molho, finalmente voltei a correr
na última sexta-feira. Eu e a Iza fizemos 5km (1km a 7; 2km a 6:30 e 2km a
6min/km) correndo de noite, numa ventania danada! A gente chegou ao final rindo
igualzinho criança depois da brincadeira!
A Luíza está tão motivada com esse esporte, que decidiu (é
cabeça-dura igual ao pai dela) que irá correr os 18km da Volta da Pampulha...
Esse ano!!!
Desde que ela nasceu, minha preocupação sempre foi "dar
as coisas", isto é: proporcionar estudo, conforto etc. Eu pensei que
ganhando dinheiro, daria "coisas" e - dessa forma - estaria cumprindo
bem meu papel de pai.
Errei feio!
Minha filha cresceu cercada de coisas. Se não teve tudo que desejava (e faltou muito), ao menos passou a infância e adolescência estudando em boas escolas, comendo bem, viajando... Enfim, graças a Deus, sempre tivemos uma vida de classe média bastante confortável.
Errei feio!
Minha filha cresceu cercada de coisas. Se não teve tudo que desejava (e faltou muito), ao menos passou a infância e adolescência estudando em boas escolas, comendo bem, viajando... Enfim, graças a Deus, sempre tivemos uma vida de classe média bastante confortável.
Mas ela cresceu sem que eu desse a ela uma coisa que hoje
vejo que era importante também (ou até mais importante que as outras). Ela
cresceu sem ter um pai "legal". Sabe, daqueles pais
"gente-boa", que estão presentes, que conversam, que ouvem, que
brincam... O que ela teve veio com defeito: era irritadiço, mal humorado e
avesso ao diálogo. Meu pai era assim comigo, de forma que eu pensava que ser
pai erra isso. Não era.
A família aprendeu a respeitar esse cara muito mais pelo
medo que ele impunha do que pelo papel que ele exercia.
Eu já havia me dado conta dessas coisas há algum tempo, mas
já era tarde demais. Como ficar lamentando não levaria nenhum de nós a nada,
decidi me reinventar e tocar a bola pra frente. O dano já estava feito e não
daria mais pra voltar no tempo.
Fazer oque, né?
E deu até certo porque, nos últimos anos, o povo lá de casa
tem realmente me visto como companheiro (não como um "sujeito legal",
amigo, mas como alguém que já não representa ameaça ao bem estar geral do
ambiente). Se a filhota não era íntima do pai dela, ao menos passou a
considerá-lo como um cara que vem se esforçando pra ser melhor. Ou seja, dos
males o menor!
Sendo assim, a última coisa que me passava pela cabeça era
que, um dia, a moça – no auge dos seus 19 anos – iria chegar pra mim e dizer:
"Pai, quero correr a Pampulha COM VOCÊ"! "e pai, eu queria que
VOCÊ (ela foi bem enfática nisso!) me treinasse". "Vou continuar na
musculação, mas nem vou falar de corrida. Eu queria que VOCÊ fizesse uma
planilha que me possibilitasse sair do patamar dos 5km para conseguir correr a
Volta toda sem parar, igual você faz!". Naquele dia eu chorei.
Mas só chorei rapidinho porque, logo em seguida, liguei pros amigos (Muito Obrigado, Tatiana!) pedindo toda e qualquer informação ou planilha de treino que pudessem ter pra me ajudar. E eu que nunca entendi nada de educação física (mas tenho longa experiência em corrida, devo admitir a meu favor!) compilei os dados que recebi (programador, compilar... sacou o trocadilho?!?!?) e montei uma planilha de treinos bastante puxada.
No começo fazíamos os treinos juntos mas, depois que eu machuquei a patinha, a Iza teve que correr sozinha.
Mas só chorei rapidinho porque, logo em seguida, liguei pros amigos (Muito Obrigado, Tatiana!) pedindo toda e qualquer informação ou planilha de treino que pudessem ter pra me ajudar. E eu que nunca entendi nada de educação física (mas tenho longa experiência em corrida, devo admitir a meu favor!) compilei os dados que recebi (programador, compilar... sacou o trocadilho?!?!?) e montei uma planilha de treinos bastante puxada.
No começo fazíamos os treinos juntos mas, depois que eu machuquei a patinha, a Iza teve que correr sozinha.
Ficar só olhando a menina fazer seu primeiro treino de 10km
com o grande amigo Carlos (valeu pela força, Carlos! Brigado MESMO), me deixou
arrasado. Claro, eu fui à lagoa com eles, caminhei com o El enquanto eles
corriam, e até mandei a dor pros infernos e corri o último Km junto com ela.
Mas não era a mesma coisa, claro! O primeiro treino dela de 10 quilômetros não pôde nem nunca poderá ser feito com o pai
ranzinza. Nada acontece por acaso, eu acho... Mas se é assim mesmo, esse foi um
preço doloroso demais que tive que pagar pelos meus erros. Além disso, ela não
tinha nada a ver com a coisa! Por que isso, né??? Vai entender essas coisas de Deus (você não vai falar que
foi coincidência eu correr uma maratona sem lesão, e vir me machucar seriamente
numa corrida muito menor, vai?!).
Chegada do treino de 10KM da Luíza (repare que a árvore nem se move!) |
O fato é que, na última sexta-feira, eu fiquei muito - mas
muito feliz em poder retornar à pista pra treinar com ela de novo!
Ontem pela manhã, voltamos pra lagoa. A planilha dizia pra
correr 9km a 6min 30seg /km (velocidade maior do que a do primeiro treino de
10km dela). Começamos a correr com um vento frio e forte. No final do primeiro
km, notei que ela não respirava direito por causa de uma coriza. Usei meus
poderes mágicos e pedi a ela pra olhar pra um ponto fixo lá na frente. Comecei
a falar de forma monótona e cadenciada. Depois de 400 metros eu pedi a ela pra
respirar fundo pelo nariz e perguntei: cadê sua coriza?! Ela levou um susto!
"Ué pai, o quê você fez?! Sumiu!!!). Não foi mágica, caro leitor. É que eu
já fiz isso comigo mesmo tantas vezes enquanto corria, que simplesmente sabia
que o "dorme" iria funcionar (só não tinha testado em outra pessoa
correndo antes). E deu certo. Depois da barragem o vento frio deu lugar a um
calor de mil graus. Como eu sabia que não haveria lugar pra comprar água, levei
uma garrafinha pra ela durante todo o percurso (isso é que é pai bonzinho, hein
filha?!?!?). No sexto quilômetro ambos estávamos bastante cansados (os 45 dias
longe do asfalto me prejudicaram bem). Tomamos gel de carboidratos e
continuamos a correr. Eu comecei a sugerir a ela que a água estava gelada.
"A água na minha mão está gelada... Gelada... Muuuuuito gelada... Tão fria
que vai até dar uma dorzinha na sua cabeça quando você beber, mas fará você se
recuperar totalmente enquanto corre...). Ela levou na brincadeira... Depois que
bebeu um gole deu mais alguns passos e então a mágica aconteceu de novo: a
menina abriu um sorriso largo e deu o grito que os corredores dão quando ocorre
a descarga de endorfina no corpo! E dessa vez eu estava lá pra acompanhar!!! E
a moça ria! E corria! E ria... e corria rindo... Foi doido!
Fechamos o treino em 1 hora e cinco, exatamente como a
planilha mandava. Minha patinha não deu sinal algum de dor e acho que já estou
liberado mesmo pra voltar a correr devagar.
Curtindo depois do treino de 10KM da Luíza |
Lição daquele dia: a felicidade mora é nas coisas simples da
vida da gente!
Eu e o El Caminhando |
Esperando pra correr o úlimo KM com a Íza |
Fazendo mágica pra acompanhar a Luíza! |
Descanso do guerreiro - com meus pais |
Preparando pra correr o último KM com a Íza |
Alimentação antes do treino (repare na xícara de coruja!) |
Os Amigos |
Fazendo o jantar (o que é que essa foto tem a ver com a corrida, meu Deus?!?!) |
3 comentários:
Meu amigo... estou muito feliz!! Feliz pelo post no blog, pelo desempenho da Luiza (consigo acompanhar essa mocinha não!!rsrs) e principalmente feliz pela sua "patinha" ter sarado e você poder voltar a fazer o que tanto gosta... CORRER!!! E o principal... PARABÉNS a vocês como família!! Você e a Eneida são exemplos maravilhosos!!
Amei esse post! Amei as fotos, amei o texto, amei a cura da sua patinha.
sua companheira de corrida...e amiga... :)
ps: muito obrigada por estar me treinando, por fazer a planilha e, principalmente, por não pensar que é tarde demais, por não desistir de se "reiventar", eu gosto desse cara novo que vc agora é :D gosto bastante
Fantástico!!!
Em todos os sentidos!!!
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