segunda-feira, 25 de junho de 2012

Preparativos




O penúltimo final de semana antes do grande dia da Maratona do Rio (8/7) foi cheio de atividades. No sábado, acordei de madrugada para ir trabalhar em São Paulo. Felizmente tudo correu bem, mas só cheguei de volta em casa às 9 da noite - e com uma fome de leão (não há tempo para almoço em SP, só um sanduíche leve).
Eu estava exausto e pensei em só conversar um pouco com a Eneida durante o jantar e depois cair na cama. Mas a conversa estava boa e resolvi trocar a lista de músicas do iPod antes de dormir. Eneida ficou lá comigo e fomos conversando e ouvindo as músicas, ela sugerindo umas, "vetando" outras (funk carioca não! PelaMorDeDeus!). Quando dei por mim, já passava da meia-noite!
Preparei o tênis, roupa e acessórios para o treino de domingo e fomos dormir.
Como a programação social para ontem era intensa (a Eneida queria ir ao Shopping comprar uma sandália para a Iza e depois iríamos à festinha de aniversário do Miguel - que, por sinal, estava ótima!), tive que ir correr bem cedo, para conseguir voltar a tempo para a "maratona de atividades".
Faltando cinco para as oito, iniciei o penúltimo Longão antes do grande evento. Desta vez eu estava preparado (ou achava que estava!): levei dois saches de gel para me alimentar durante o treino, dinheiro pra comprar água e gatorade, e ainda uma barrinha de cereal para comer depois da corrida.
Meu plano era correr o tempo todo a 7min/km, porque este é o ritmo que pretendo correr no Rio. No começo foi difícil porque toda vez que eu olhava pro relógio, a velocidade estava maior que o planejado e eu tinha que diminuir a marcha. Perto do quinto quilômetro um corredor me ultrapassou e notei que ele corria com o "inquebrantável manto coral", camisa típica da equipe Baleias. Apertei o passo até alcançá-lo e perguntei pelo Miguel.
Após me dizer que Miguel estava bem, Ailton (este é o nome dele) continuou conversando comigo sobre corridas, foi um dos papos mais legais, mais descontraídos que já tive com outro corredor. Ele me disse que corre há pouco menos de 4 anos e que estava treinando para a maratona do Rio. Quando eu disse que também correria lá, a conversa ficou mais animada ainda. Ailton me falou de sua rotina de treinos e de como a corrida mudou sua vida.
Ele até me convidou para entrar no grupo Baleias (achei super-legal o convite, mas sou um lobo solitário, não sei se tenho a "alma Baleias" em mim), o que me deixou emocionado. Seguimos juntos até o sétimo km e eu parei pra comprar água.

Ailton continuou sozinho e eu fiquei pensando em como o espírito de confraternização está presente neste esporte...
Peguei a água rapidamente (só 38 segundos de pausa) e voltei a correr, desta vez no ritmo mais lento: os meus 7km/min. Na altura da Igreja de São Francisco, a rua estava fechada para uma corrida que estava acontecendo. Diferentemente da maioria das provas, a largada desta - como vim a descobrir depois - havia sido no Marco Zero. E o mais curioso: durante o percurso, fui percebendo que haviam pouquíssimos homens na prova. Achei aquilo estranho e pensei "é, as coisa tão mudanu mesmo. As muié vão invadí é tudo quanto é lugá dessi mundão grande sem porteira"...
Só quando passei pelo pórtico de chegada é que descobri que a corrida era SÓ PARA MULHERES (ai é que eu entendi porque todos ficavam olhando desconfiados pra mim e pro Ailton, quando corríamos lado a lado no canto da rua... Vexame total!)

A temperatura na casa dos 20 e poucos graus contribuiu muito para a sensação de bem-estar que eu estava sentindo. Estava tudo perfeito! No nono km abri o primeiro gel (morango silvestre, eu acho). Não estava nem um pouco com fome, mas a idéia era justamente me alimentar ANTES da fome chegar, pra ver como eu me sairia no dia da maratona. Tomei o gel, bebi o resto da água que eu estava guardando, aumentei o volume dORappa e continuei no meu ritmozinho cuja média estava em 6:45km/min (tive que correr um pouco mais rápido no trecho em que acompanhei o Ailton). No décimo quarto km parei novamente pra comprar água (42segundos) e decidi... VOLTAR!
Meu plano inicial era fazer 24km, mas pensei "se eu voltar por onde vim, farei 28km. Está tudo tão gostoso que seria uma pena desperdiçar esta manhã", e lá fui eu: fiz a volta e saí correndo feliz da vida com a garrafinha de água na mão.
No km 18 abri o segundo sache de gel, tomei com um gole d'água e continuei firme. Depois de algum tempo tive outra idéia maluca: "e se eu entrar na praça e correr em direção ao Ouro Preto? Poderia 'arredondar' o treino para 30km!" Ai eu me animei de vez! Contornei a praça e corri dentro do bairro até o Garmim marcar 1km. Retornei para a lagoa e parei pela última vez comprar gatorade. Mal recomecei a correr e me bateu uma fome INEXPLICÁVEL! o estômago roncou e a sensação foi muito estranha. Sem pensar em mais nada, peguei a barrinha de cereal que estava guardando pro final e mandei ver.
Logo na primeira mordida, percebi a burrice que havia feito. o farelo se transformou em um bolo na minha boca e eu não conseguia engolir. Que coisa esquisita: você morrendo de fome, a comida na sua frente e você não consegue comer. Irgh!!!
Como eu estava correndo enquanto comia, o jeito foi tentar beber o gatorade, mas eu estava morrendo de medo de engasgar.
A luta perdurou por uns bons 500 metros e, felizmente, tudo acabou bem. Mas ficou a lição: se grandes cientistas desenvolveram comida em gel, algum motivo eles tiveram. Nota mental: barra de cereal durante a corrida não funciona - MESMO!

Me recuperei do susto e continuei firme nos 6km finais. A esta altura a mente estava tranquilíssima, mas o corpo não estava com esse bom-humor todo. A perna direita reclamava com a esquerda, os ombros queriam subir no pescoço...
Usando uma abordagem mais psicológica para resolver a situação, tentei desenvolver a técnica do domínio da mente sobre o corpo. Trata-se de um exercício em que o cérebro fica falando o tempo todo: "vai corpo! vai corpitcho! Não pare agora!", mas o corpo - que não estava nem ai - se rebelou de vez e mandou a mente se fulminar: "vá se fulminar, mente! Não é você que está se desmanchando de suor aqui! Não me enche o saco! Aliás, não me enche parte nenhuma!"
Era uma batalha de vida ou morte (mais morte do que vida) que se travava diante - e dentro - de mim! Felizmente, passou um casal de corredores e resolvi acompanhá-los. O corpo fez uma trégua com a mente e seguimos os três - eu, meu corpo e minha mente - tentando acompanhar os dois corredores. O iPod começou a tocar a música da Adele (If It Hadn t Been For Love. Um solo de banjo fantástico!) e tudo virou festa de novo.
Faltando exatamente 1000 metros para completar os 30km o cansaço voltou com força, mas nesta hora a mente já havia ganhado a guerra. Eu fiquei dizendo mentalmente para mim mesmo: 900 metros, 800 metros... Quando dei por mim, já estava vendo o carro estacionado lá no final!
Eu consegui, amigo leitor! Eu corri 30km!!! Você acredita nisso?????!!!!! UHU!!!!
Infelizmente não houve tempo para a tradicional comemoração. O relógio já marcava 11:24 da manhã. Entrei no carro e já fui ligando pra casa.
Minha família tem uma característica interessante: todo mundo fica mal humorado quando está com fome. Ontem não foi diferente: encontrei todos com cara de poucos amigos em casa e tive que usar todos os meus poderes para resolver a situação. Tomei banho rápido, coloquei uma roupa e saímos correndo pro restaurante. Nunca na minha vida eu achei a comida do Fazendinha tão gostosa!
De lá, seguimos para o shopping pra comprar a tal sandália da Iza. A essa altura meu corpo já havia esfriado e minhas pernas (aquelas mesmas que estavam brigando uma com a outra na corrida) ficaram duras e doloridas que eu quase não conseguia me mexer. Nunca fiquei tão feliz por ter comprado um carro que não precisa passar marcha! Mas mesmo assim doía tudo!
Minhas "partes masculinas" ficaram assadas e aquilo incomodava bastante! Felizmente, não fiquei com bolhas nem dores nos pés, mas as pernas doíam pra caramba! No caminho, eu rezava o tempo todo para que houvesse uma poltrona livre no saguão do shopping.
E Deus existe! Prova disto é que a poltrona estava lá, só me esperando!!!
De lá, fomos para a festinha do Miguel (tinha uma canjica de amendoim deliciosa!). Na saída, eu só conseguia pensar na minha cama!
Mas a programação ainda não havia terminado. Fomos para casa dos meus pais (graças a Deus, tudo bem com eles!), de onde ganhamos da minha mãe uma tigela com massa para pão de queijo e lingüiça com cebola para o recheio!
Acabei indo deitar lá pelas dez da noite. Mas foi um dia inesquecível!

Não sei se estou pronto para a maratona, mas esse treino de ontem animou bastante!

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Minha Maratona de 5km - por Eneida Freire


Caro leitor,
Ao postar o relato de minha participação na MMIBH (prova mais sofrida que já corri), pedi à companheira Eneida (gatinha que tem me aturado há mais 20 anos) que deixasse aqui no blog o registro de como foi sua participação na prova e de como é que funciona, na visão dela, o maravilhoso mundo da corrida de rua.
Ontem à noite, me emocionei ao ler o que a moça escreveu. Por dificuldades operacionais (dificuldades operacionais=trabalhando sem parar desde 8horas), só agora tenho condição de postar o texto. Aqui vai:
*
Bom, fui convidada a vir aqui para contar sobre a minha corrida.
Quanto prestígio!
Sim, a minha humilde corrida de 5km!
Humilde porque todas as pessoas que passam por aqui, vejo que correm muuuuiiiiiito mais de 5 km! Hehehehe
Eu não tenho, de forma alguma, a pretensão de correr mais que isso, que para mim já é uma maratona.
Confesso aqui que sempre fugi das aulas de educação física, e que o autor desse blog foi à minha escola, para me conhecer melhor, em um dia de campeonato de vôlei!
(naquele tempo era o auge!)
Hello??????
Realmente ele não me conhecia, e é claro que eu não me encontrava na escola em dia de campeonato! Hahahaha
Nunca fui afeita a atletismos.
Bom, aquela coisa, atrapalha o cabelo, quebram-se as unhas, tênis não é nada glamouroso etc etc.
Daí, acompanhando o autor desse blog, porque posso não ser atleta, mas sou companheira pra car@#$%%, como dizem os meninos, então estive presente em todas as corridas que esse camarada correu.
E sempre me emocionei com a determinação, com o espírito não competitivo que as corridas de rua têm, pois apenas se tem em mente a sua própria superação, o seu próprio combate, a sua própria determinação em vencer mais aquela etapa
Sim, essa foi uma das coisas que aprendi com o autor desse blog.
Iniciei, pois, a passos lentos, literalmente, minha maratona de 5km!
Eneida na MMIBH 2012
E me venci! Calcei, pois, um par de tênis! Oi?!
É, gente boa, e a sensação é realmente maravilhosa, a de vencer a si mesmo, um passo e um dia de cada vez!
Recomendo!
E obrigada, meu beinS2, pela oportunidade de minha humilde contribuição!
@Eneida Freire
HTTP://tengasuperacion.blogspot.com.

Eneida já descansada, de volta ao maravilhoso mundo da moda :)

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Eles venceram!


Enquanto aguardamos o relato da Eneida sobre sua participação na MMIBH, permita-me o leitor amigo, falar sobre um feito de outrem - mas que estou comemorando como se fosse meu.
Como eu já disse em mais de uma ocasião, a idéia (com ou sem acento, dependendo de sua idade, caro leitor) do blog é relatar meu longo e difícil caminho para realizar minha prova dos sonhos: correr uma maratona na vida. Desta vez porém, não vou falar aqui de mim, mas de um trio que conquistou grande feito, e que serve de exemplo para mim.

Sabe,
Grande parte dos humanos que correm, fazem percursos de 5 quilômetros. Estes são considerados seres "normais" e "saudáveis" pela sociedade. Correm muito os danados, posto que 5km é bem mais do que uma idinha até a padaria (se o leitor que não corre tem dúvida, que marque no carro e verá que 5km não é molezinha não!).
Além destes, há o grupo dos que correm 10km, já sendo classificados como "corredores excêntricos", "que gostam de sofrer". De fato, correr durante quase uma hora sob sol forte não é coisa de gente muito normal. Alguns terminam o percurso com bolhas nos pés, outros chegam a ter alucinações no final...
Mas há piores! Existem indivíduos que, não contentes com esta distância, (ou talvez sofrendo de stress pós-traumático, ou outro distúrbio neurológico... vai saber!) decidem se embrenhar por percursos de - pasme! - 21km!!!
Estes são classificados pela literatura médica especializada como: D.M.R. - Débilus Mentalis Retardadus, ou simplesmente, doidos.
Por fim, há os casos patológicos crônicos: aqueles que, querendo provar a si mesmos que podem superar seus próprios limites, decidem treinar corpo e mente para suportar a distância inimaginável de 42 quilômetros!
Para estes a literatura médica especializada ainda nem conseguiu um nome apropriado.

Escrevi tudo isto porque um cara que eu não conheço (só o vi uma vez, mas não conversamos) pessoalmente, mas a quem muito admiro por sua determinação e força de vontade, concluiu no último final de semana nada menos que a COMRADES Marathon.
Para o leitor não totalmente familiarizado com o maravilhoso mundo das corridas de rua, a COMRADES é uma Ultramaratona com percurso de 89,2km entre as cidades de Pietermaritzburg e Durban, na África do SUl. Chamada de "the epic journey", a COMRADES é das mais famosas (seguramente a mais emocionante) Ultramaratonas do mundo.
Pois é, o Miguel Delgado correu por quase 12 horas para chegar ao estádio de Durban (imagine o leitor qual será a emoção de terminar num estádio uma prova de quase 90km!). Ele venceu a si próprio. Provou pra ele mesmo que podia. Superou os limites insuperáveis. Deve estar todo quebrado a esta hora (estou aguardando ansiosamente o relato dele no blog Baleias), mas ele conseguiu!
Com seu feito, Miguel e seus amigos Wu e Marinês, me deixam o exemplo. Eles conseguiram, então - se eu tiver determinação suficiente, disciplina suficiente, e força de vontade suficiente, eu também posso alcançar meu objetivo. Talvez não seja este ano. Ou talvez seja... O fato é que a conquista do trio redobrou minha motivação!
Eu vou pro Rio disposto e confiante (apesar de com preparo físico deficiente, dado o pouco treinamento), e vou dar o melhor de mim mesmo.

Ah, por falar nisso, deixe-me lhe dar uma notícia boa! Ontem eu fiz o teste ergométrico (a enfermeira me depilou! De Novo! meu peito já tá todo pinicando).

Ainda não levei o resultado pro meu cardiologista, mas o médico que fez o exame é cardiologista da minha mãe - e me já me disse que estou apto a encarar a maratona!
Isto já é uma vitória, não é?!

terça-feira, 5 de junho de 2012

MMI-BH 2012


No último domingo, dia 3, participei com minha mulher da edição 2012 da Meia Maratona Internacional de BH.
Corrida de rua é sempre uma festa, um acontecimento. A coisa toda começa bem antes, no dia de retirar o kit de participação. E desta vez não foi diferente: na sexta-feira fui com a Eneida ao Shopping para pegarmos o tal kit e aproveitei para tirar uma casquinha da esposa (momento raro pra quem tem dois filhos em casa!).
Como tudo que é bom, o passeio durou pouco porque o escravinho aqui teve que ir pro lerê na parte da tarde.
No domingo, acordamos cedinho, lanchamos, trocamos de roupa e ficamos esperando o Pedro, namorado da Luíza. A casa estava com clima de viagem de férias, cada um correndo para um lado... Assim que o Pedro chegou, rumamos para a lagoa da Pampulha.
A Eneida iria correr a prova de 5km, eu havia me inscrito para os 21km e o restante do grupo (Iza, El e Pedro) ficaria na torcida.
A largada da turma dos 21km foi dada pontualmente às 7:30hs (meia hora antes da turma que correria os 5k). Como chegamos na praça faltando 5 minutos, tive que descer sozinho do carro e correr para a largada. Resultado: comecei a corrida sem platéia nem nenhum dos meus colegas corredores por perto. Mas tudo bem, eu estava lá! Era isto que importava.
Como fiquei quase duas semanas sem treinar direito, a prudência me mandou ir devagarinho. Obediente que sou, segui a ordem da consciência e fui só curtindo a corrida, acompanhando o ritmo da multidão.
Ao fim do primeiro km, senti uma pedra entrar na sola do tênis. Bati o pé no asfalto, xinguei um pouquinho e, como nada adiantou, continuei a correr com a tal pedrinha incomodando.
Ao chegar à placa do 7o km, o incômodo já havia se transformado em dor no pé. Não havia outro jeito: tive que parar. Ao tirar o tênis, descubro que a tal pedra era na verdade, a espuma do chip (os tênis Nike vêm com um "buraco" pra guardar um chip. O buraco é preenchido com uma espuma rígida)! Joguei a maldita o mais longe que consegui, calcei novamente o tênis e voltei para a prova. Mas o estrago já estava feito: uma bolha do tamanho de uma pequena moeda havia se instalado no pé esquerdo. Droga! Já fiz trocentas corridas com bolha no pé, de forma que aquilo não foi exatamente uma novidade na minha carreira.

Achei a prova bem organizada, com muitos postos de água. O tempo estava quente e eu pude dar uma de Queniano, jogando um copo inteiro d água sobre o boné (sempre adoro essa parte!). Lá pelo quilômetro 13 bateu uma fome tão grande quanto repentina. O retardado aqui havia comido só um pãozinho com margarina antes de sair de casa. Trouxa! Burro! Mané!
A cada km a fome aumentava mais e mais. Comecei a ficar desanimado, com o estômago embrulhado, cansado e ainda com a tal bolha fazendo o pé latejar. Mas você acredita que, mesmo assim, eu estava curtindo a prova?!
Encontrei uma senhora de uns 50 e poucos anos que corria um pouco à frente, num ritmo parecido com o meu. Apertei o passo até alcançá-la e corri junto com ela por um bom tempo. Até que chegamos ao zoológico. O lugar é lindo! Apesar de ter uma subida longa, o percurso de uns 2km é todo arborizado. Para quem já está todo suado e cansado de correr no sol forte, aquela sombrinha era tudo de bom! Quase no final da subida, notei que a senhora foi ficando para trás. Diminui meu passo até ela ficar do meu lado novamente. Ela agradeceu como se eu houvesse lhe dado um presente caro! "Eu tenho que continuar do seu lado, moço (adorei o "moço"!), se eu ficar pra trás, vou acabar desistindo", ela disse. Corrida de rua tem dessas coisas: não estamos uns contra os outros, e isto acaba gerando um certo espírito de companheirismo, de camaradagem.
Faltando pouco mais de 2km para o final, senti um princípio de câimbra na coxa direita (o que é bem raro. Nem me lembro da última vez que tive câimbras) e resolvi caminhar um pouco. Acenei para que a senhora seguisse o caminho dela e fui até o meio-fio para alongar a perna.
Após uns poucos momentos eu já me sentia pronto para encarar o finalzinho da prova. Voltei a correr mas, nos 500 metros finais, a tal câimbra voltou. Diminui drasticamente o ritmo e um corredor que passava por mim bateu no meu ombro e perguntou se eu estava bem. Ao ouvir que sim, ele falou uma frase "de filme" que vou me lembrar por um bom tempo: "então vem que a vitória é nossa! Não pára!"
Aquilo foi como uma injeção de ânimo direto na veia. Aumentei o ritmo e corri junto com o cara. Uns 100 metros à frente, ele fez a mesma coisa com outro sujeito que estava caminhando: bateu no ombro, perguntou se o cara estava bem e, ao ouvir que ele só estava cansado, gritou para que o cara nos seguisse!
E fomo os três, dois capengas e o "samurai". Quase no finalzinho ainda "arrebanhamos" uma mulher que também estava caminhando. Foi incrível!
Minha coxa já queria me quebrar na porrada de tanta dor quando, nos últimos metros, eu vi minha família! Todo mundo gritava: "vai Toninho! vai Toninho!". O El me deu a mão mas, ao invés de apenas tocar na mão dele, eu a segurei firme. Ele correu comigo e cruzamos juntos a linha de chegada.
Eu e os dois companheiros agradecemos efusivamente nosso amigo anônimo pela força. Ele nos cumprimentou a todos (inclusive o El) e não o vi mais.

Terminei os 21km com a coxa doendo. Acho que, sem perceber, eu devo ter jogado o peso do corpo para o lado direito pra compensar o incômodo causado pela bolha no pé esquerdo. Sei lá.
O certo é que demorei duas horas e 23 minutos para concluir o percurso. Um tempo lamentável. Mas tudo bem. Não fosse a dor na coxa, acho que ainda conseguiria correr mais uns 9 ou 10km. Moral da história: tenho que ficar esperto se quiser fazer a maratona do Rio.
E eu quero!
Encerro este texto convidando a colega de corridas, Eneida, a fazer - ela também - um post aqui no blog, contando como ela encarou os 5km. Fala ai, Beim!

Ah, não posso deixar de mencionar a marca histórica do amigo Carlos Henrique: o sujeito cravou 1hora 50min nos 21km!!! Aê Carlos!!!