terça-feira, 21 de outubro de 2014

...com um laço apertado, mas sem dar nó.

Caro leitor,
Daqui a exatamente duas horas farei o mais importante treino da vida. Redijo pois este texto às pressas, de qualquer jeito, direto no Chrome - sem corretor, sem nada. Preciso escrever antes da corrida justamente porque não sei como ela será. Quero muito deixar registrado nesse diário aberto o treino de hoje, porque é um acontecimento que poderia não ter ocorrido se eu tivesse tomado outro caminho na vida, se tivesse feito outras escolhas.

Eu corro desde a segunda edição da Volta da Pampulha e já tive anos bons e anos ruins. O ano de 2010 foi especialmente difícil. Minha vida estava complicada e eu quase abandonei as ruas por conta de trezentos e quinze problemas empresariais, emocionais, trabalhacionais, sexuais, familiais e tudo o mais.
Mas eu não desisti.
Fui assim como o maratonista que chega ao trigésimo quilômetro e, mesmo sem ter fôlego pra mais nada, mesmo sem ter nada nem ninguém pra se apoiar, mesmo com o corpo todo alquebrado, ainda encontra forças dentro dele mesmo  pra se reinventar na corrida e continuar pisando o asfalto quente, um pé depois do outro. Assim fui eu. Treinava com frio, treinava com medo, treinava com raiva, com dor na perna, no cotovelo, na cabeça, no coração. Mas continuei treinando. Quando reparei, o meu trigésimo quilômetro já havia ficado lá pra trás, e pude seguir de forma mais suave. E foi ficando mais e mais suave. Porque eu me reinventei.
Decidi que seria assim. E foi assim que foi (que se dane a repetição de 'foi'). No meio do segundo semestre daquele 2010, eu gostava de correr de novo. Treinei muito, me esforcei muito, e voltei às provas de rua e às provas da vida.
Depois disso, corri um montão de provas de rua, em um monte de lugares. Corri na chuva, no sol rachando. Corri no calor, no frio. De dia, de noite. Quase sempre sozinho. Sempre adorando correr!

O tempo passou e daqui a pouco eu vou pra rua de novo. Tô tão ansioso que nem trabalhar mais eu tô conseguindo (dá pra perceber, né? Afinal ainda são 17 horas e eu tô aqui, escrevendo esse texto ao invés de ralar... Espero que ninguém da empresa leia esse blog). É que, pela primeira vez na vida, terei a honra (sim, 'honra'. Poucos pais têm esse privilégio) e a alegria de correr mais de 10 km com minha filha. Não tô escrevendo esse texto pra rasgar a seda pro lado dela (até pq ela só vai ler isso beeeem depois da corrida). Tô escrevendo pq quero registrar essa adrenalina que está no meu corpo agora, me fazendo suar enquanto digito.

Só quem corre sabe como é estranho você simplesmente TER que concluir uma coisa só porque se propôs a fazer. Por isto, penso que só quem corre entenderá o que me faz suar agora.
A Luíza está treinando pra fazer a Volta da Pampulha desse ano. Hoje será a primeira vez que ela superará a distância de 10km (correremos 12, se Deus quiser e minha patinha não doer muito!).
Há alguns anos atrás, eu jamais imaginaria que isso seria possível. Minha relação com ela era hiper-superficial, eu era o pai bravo, o que quer educar, mas não sabe como. O que quer corrigir, mas só consegue com bronca, com discussão. Isso funcionou comigo, mas estava dando muito errado com ela. E com o resto da família também.

Não sei como aconteceu, mas tudo mudou. E daqui a pouco terei o privilégio de passar uma hora e dez minutos conversando com a minha filha sobre tudo e sobre nada. Mostrando pra ela a paisagem bonita da lagoa à noite, os lugares onde já corri (vamos pro lado dos ricos e famosos) sozinho tantas e tantas vezes, sem ter ninguém pra compartilhar a paisagem. Mostrando pra ela um pouco de mim.
O certo é que eu tô igual noiva no dia do casamento. Com medo do vestido não servir, com medo de chover, do noivo não aparecer, do tênis ficar apertado (sim, comprei um tênis novo! Amarelo!!! - e antes que você critique: paguei à vista, e com o MEU próprio dindin!)... Eu to NERVOOOOOSSOOOOO!
#ProntoFalei!

Lembro-me de Quintana, que li sem querer ler. Da poesia que um dia abri por mero acaso. Que me destruiu, mas que me proporcionou a oportunidade de me reerguer: 
"Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço... 
Uma fita dando voltas.
Enrosca-se, mas não se embola, vira, revira, circula e pronto: está dado o laço.
É assim que é o abraço: coração com coração, tudo isso cercado de braço.
É assim que é o laço: um abraço no presente, no cabelo, no vestido, em 
Qualquer coisa onde o faço.
E quando puxo uma ponta, o que é que acontece? Vai escorregando...
Devagarzinho, desmancha, desfaz o abraço.
Solta o presente, o cabelo, fica solto no vestido.
E, na fita, que curioso, não faltou nem um pedaço.
Ah! Então, é assim o amor, a amizade.
Tudo que é sentimento. Como um pedaço de fita.
Enrosca, segura um pouquinho, mas pode se desfazer a qualquer hora,
Deixando livre as duas bandas do laço.
Por isso é que se diz: laço afetivo, laço de amizade.
E quando alguém briga, então se diz: romperam-se os laços.
E saem as duas partes, iguais meus pedaços de fita, sem perder nenhum pedaço.
Então o amor e a amizade são isso...
Não prendem, não escravizam, não apertam, não sufocam.
Porque quando vira nó, já deixou de ser um laço!!"

Agora eu vou. Vou correr atrás dela.

É nóis.


sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Academia da Morte (Cuidado: imagens fortes)

Caro leitor,
Começo o texto de hoje com um aviso para que fique bem claro: este post possui imagens fortes - não prossiga se você for sensível à visão terrível de pessoas sofrendo e sendo massacradas em aparelhos de ginástica!

Ah... Continuou com a leitura? Ignorou meu aviso, né?
Eu sei de tudo: você tem um lado masoquista... Eu sabia! Está até curioso porque já desconfia que falarei sobre o MEU PRÓPRIO sofrimento... E vamos por sofrimento nisso!


Tudo começou na semana passada quando reiniciei as atividades na academia da morte (onde os fracos realmente não têm vez), depois de ficar bastante empolgado com a decisão do meu amigo e cliente Luiz Felipe, que decidiu entrar de vez para o maravilhoso mundo das corridas de rua. O Luiz se matriculou na academia, e aí eu pensei: - não posso ficar pra trás! Fui eu quem o incentivou, e essa conversa de 'o discípulo supera o mestre' não pode ser levada assim tão a ferro e fogo...
E foi assim que eu entrei pro sofrimento, digo - pra academia.

A dona da academia é minha amiga (isto é, eu pensei que fosse!). Há muito tempo eu vou neste mesmo lugar, sempre na hora do almoço, mas só ia para correr na esteira. Eu era meio que o 'ogro' de lá, porque entrava, corria, tomava banho e saia. Só! O pessoal 'bombadão' às vezes ficava me olhando com cara de quem não entende... A Ana (dona da academia) também achava aquilo meio esquisito, mas como eu pagava em dia e era um sujeito legal, ela não reclamava.
Quando falei pra ela que desejava fazer uma ficha e iniciar o tal 'reforço muscular' eu notei um sorriso estranho no canto da boca dela... Aquilo não me cheirou muito bem. Voltei no dia seguinte pra começar os 'treinos' e outra surpresa: o Bernardo, marido da Ana e também meu amigo, estava lá. Isso fez acender o alerta vermelho dentro de mim, porque ele NUNCA vai lá na hora do almoço.
E eu comecei. Foram 40 minutos de tortura inenarrável. Nem preciso escrever nada, as imagens falam por si!






No final do sofrimento, a Jenifer (funcionária que ficou encarregada de me torturar) disse: "O primeiro dia foi mais tranquilo, pra você ir se adaptando..." Eu quis fazer meu olhar de ódio pra ela, mas até as pálpebras doíam!
E pela primeira vez desde a maratona, eu sentia dor em partes do meu corpo que eu nem lembrava que existiam.
Tomei banho do jeito que deu (meu braço não levantava mais; só deu pra lavar as partes baixas) e fiquei muito feliz quando consegui chegar no escritório e sentar na minha cadeira!
Os dias foram passando e o massacre continuava. Eu mal entrava no recinto e a Jenifer já dava aquele sorrisinho maquiavélico...
E eu aguentei, caro leitor! Sofri (quase) calado. Gemi algumas vezes, mas aguentei firme. Afinal de contas, fui eu mesmo que pedi pra Jeniffer: 'me incentive! Não me deixe fraquejar!'

Até que, cansado de apanhar, ontem eu decidi que merecia ter um 'day-off' de treinos, e ficar o horário todo só correndo na esteira. Antes de sair de casa, peguei a roupa de corrida (short curto, cronômetro e tênis macio) e fui todo feliz.
Assim que comecei a correr, Jeniffer já foi buscar a ficha de tortura. Eu disse a ela meio sem jeito: 'hoje vou te dar folga! Ficarei só na esteira mesmo... pra relaxar!'
- DE JEITO NENHUM! o berro estridente ecoou pelo ambiente. "Você vai sofrer - ops, quer dizer: malhar - sim senhor"!
Tentei enfrentá-la, mas desisti quando lembrei que ela é mais forte que eu.
E lá fui eu, trocar a esteira confortável e macia por séries e mais séries de abdominais que faziam minhas entranhas quase saírem pela boca.
Pensando que eu poderia não suportar tanto sofrimento, temeroso de que aquela sessão pudesse por fim à minha carreira 'acadêmica' (e talvez à minha vida!), eu pedi à Jeniffer que documentasse a pancadaria, tirando umas fotos do massacre.
E ela fez isso. Na hora da foto, eu até tentava fazer cara de paisagem, mas aí mesmo é que eu sentia dores indescritíveis que atingiam desde o dedinho do pé até o fio do bigode. Saí de lá tremendo!
Mas você acredita que eu já tô até gostando de sofrer?!?! É sim! Minhas pernas e meus braços estão doloridos, mas sinto que tenho mais disposição e energia!
O pé não está doendo e, aos poucos, a vida vai voltando (mais ou menos) ao normal.









Mudando de assunto (afinal, a parte boa de ser autor do blog é justamente poder escrever sobre qualquer coisa!), há uma coisa que eu quero muito que fique registrado para a posteridade aqui no blog: hoje é sexta-feira. Eu acordei animado e resolvi vir trabalhar devagarinho, curtindo a estrada no meu Monzão. Fui à garagem, retirei a capa e o bichão apareceu! Lindo! Limpinho! Brilhando!
Mas aí descobri que um dos pneus havia esvaziado. Eu praticamente só uso esse caro aos domingos, pra ir de casa até a orla da Pampulha correr. É uma importante parte do meu ritual de corrida.
Só que, depois que comecei a treinar com a Luíza, deixei o possante meio abandonado (ela, e todo o resto da família -  incluindo o cachorro - se recusam terminantemente a entrar na máquina. Penso que meus familiares são modestos e não gostam de ficar se exibindo num carrão desses...).
Pois bem, troquei o pneu e fui até a borracharia consertar o outro. E é aqui que eu queria chegar: na borracharia, conheci o Sr. Leucídio (Lilico, para os mais íntimos - disse ele). Um senhor de setenta e poucos anos com ótimo humor! Conversamos muito tempo enquanto ele consertava o pneu. Leucídio me contou - sem fazer drama algum - que tem um filho de 38 anos viciado em drogas. "Meus outros filhos estão casados. Todos trabalham e me ajudam a cuidar do mais novo", disse ele. Ele próprio, o Leucídio, me narrou sua experiência terrível com o alcoolismo "até que fui salvo pelos A.A. e pela Igreja". Há quinze anos ele não bebe "Deixei Jesus entrar na minha vida, e ela mudou pra muito melhor. Com a ajuda daquele povo do AA, me libertei do álcool e de um tanto de coisa ruim". Assim, ele disse entender o que se passa agora com o tal filho. "Eu posso trabalhar, e ainda consigo sustentar a família - graças a Deus!". - Meus netos almoçam aqui em casa (a borracharia fica ao lado da casa dele). Dá despesa, mas eles alegram os dias...

Saí de lá com uma hora de atraso, mas saí leve pra caramba! Eu e Seu Leocídio nos tornamos - sei disso! - grandes amigos hoje!

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Voltando a correr

Caro leitor, ainda não falei aqui no blog sobre o motivo que me fez ficar um bom tempo sem escrever nada sobre corrida. Eu ganhei uma fasceíte plantar (inflamação da fáscia - na planta do pé) que me deixou sem correr nem caminhar na rua por 45 dias. Pra complicar, as radiografias mostraram que se desenvolveu em mim uma calcificação excessiva do osso do calcanhar conhecida como "esporão do calcâneo". Em termos menos técnicos: eu me ferrei todo! Tive que dar adeus ao sonho da maratona no Chile em 2015 (não poderei correr maratonas por um bom tempo) e só agora estou voltando a treinar.

Mas tudo nessa vida tem um lado bom, né? (menos os LP's do Pink Floyd, que tinham os dois lados bons!) pois não é que depois de todos esses anos correndo sozinho, minha filha me deu o maior presente que um pai poderia ganhar, ao dizer que queria correr - junto comigo!!!!
Pois sim! A moça decidiu ingressar no maravilhoso mundo das corridas de rua, e eu ganhei o melhor presente: ganhei uma filha companheira de treinos! Ganhei uma amiga! Doido demais, né?!?!

A gente começou a treinar junto em junho. Como ela fazia musculação há alguns meses, estava em boa forma física, de modo que já em julho fez sua primeira prova, fechando os 5km do circuito das estações em menos de 30 minutos. Eu estava treinando com ela e me inscrevi na modalidade de 10km. Só que eu me distraí durante o percurso e, quando olhei pro relógio no quinto km, meu ritmo era de 5:30 min/km. E ai eu fiz a besteira: pensei, "que legal! Posso impressionar a Luíza e fechar a corrida em bem menos de uma hora". E assim eu fiz, mantive o ritmo e terminei os 10km em exatos 55 minutos, bem abaixo dos 6:40min/km em que gosto e costumo correr. O resultado não podia ser outro: assim que o corpo esfriou meu pé esquerdo não conseguia sequer tocar o chão, de tanta dor!
Depois de muito tempo de molho, finalmente voltei a correr na última sexta-feira. Eu e a Iza fizemos 5km (1km a 7; 2km a 6:30 e 2km a 6min/km) correndo de noite, numa ventania danada! A gente chegou ao final rindo igualzinho criança depois da brincadeira!
A Luíza está tão motivada com esse esporte, que decidiu (é cabeça-dura igual ao pai dela) que irá correr os 18km da Volta da Pampulha... Esse ano!!!
Eu e a Ìza no treino de ontem

Desde que ela nasceu, minha preocupação sempre foi "dar as coisas", isto é: proporcionar estudo, conforto etc. Eu pensei que ganhando dinheiro, daria "coisas" e - dessa forma - estaria cumprindo bem meu papel de pai.
Errei feio!
Minha filha cresceu cercada de coisas. Se não teve tudo que desejava (e faltou muito), ao menos passou a infância e adolescência estudando em boas escolas, comendo bem, viajando... Enfim, graças a Deus, sempre tivemos uma vida de classe média bastante confortável.
Mas ela cresceu sem que eu desse a ela uma coisa que hoje vejo que era importante também (ou até mais importante que as outras). Ela cresceu sem ter um pai "legal". Sabe, daqueles pais "gente-boa", que estão presentes, que conversam, que ouvem, que brincam... O que ela teve veio com defeito: era irritadiço, mal humorado e avesso ao diálogo. Meu pai era assim comigo, de forma que eu pensava que ser pai erra isso. Não era.
A família aprendeu a respeitar esse cara muito mais pelo medo que ele impunha do que pelo papel que ele exercia.
Eu já havia me dado conta dessas coisas há algum tempo, mas já era tarde demais. Como ficar lamentando não levaria nenhum de nós a nada, decidi me reinventar e tocar a bola pra frente. O dano já estava feito e não daria mais pra voltar no tempo.
Fazer oque, né?
E deu até certo porque, nos últimos anos, o povo lá de casa tem realmente me visto como companheiro (não como um "sujeito legal", amigo, mas como alguém que já não representa ameaça ao bem estar geral do ambiente). Se a filhota não era íntima do pai dela, ao menos passou a considerá-lo como um cara que vem se esforçando pra ser melhor. Ou seja, dos males o menor!
Sendo assim, a última coisa que me passava pela cabeça era que, um dia, a moça – no auge dos seus 19 anos – iria chegar pra mim e dizer: "Pai, quero correr a Pampulha COM VOCÊ"! "e pai, eu queria que VOCÊ (ela foi bem enfática nisso!) me treinasse". "Vou continuar na musculação, mas nem vou falar de corrida. Eu queria que VOCÊ fizesse uma planilha que me possibilitasse sair do patamar dos 5km para conseguir correr a Volta toda sem parar, igual você faz!". Naquele dia eu chorei.
Mas só chorei rapidinho porque, logo em seguida, liguei pros amigos (Muito Obrigado, Tatiana!) pedindo toda e qualquer informação ou planilha de treino que pudessem ter pra me ajudar. E eu que nunca entendi nada de educação física (mas tenho longa experiência em corrida, devo admitir a meu favor!) compilei os dados que recebi (programador, compilar... sacou o trocadilho?!?!?) e montei uma planilha de treinos bastante puxada.
No começo fazíamos os treinos juntos mas, depois que eu machuquei a patinha, a Iza teve que correr sozinha.
Ficar só olhando a menina fazer seu primeiro treino de 10km com o grande amigo Carlos (valeu pela força, Carlos! Brigado MESMO), me deixou arrasado. Claro, eu fui à lagoa com eles, caminhei com o El enquanto eles corriam, e até mandei a dor pros infernos e corri o último Km junto com ela. Mas não era a mesma coisa, claro! O primeiro treino dela de 10 quilômetros não pôde nem nunca poderá ser feito com o pai ranzinza. Nada acontece por acaso, eu acho... Mas se é assim mesmo, esse foi um preço doloroso demais que tive que pagar pelos meus erros. Além disso, ela não tinha nada a ver com a coisa! Por que isso, né??? Vai entender essas coisas de Deus (você não vai falar que foi coincidência eu correr uma maratona sem lesão, e vir me machucar seriamente numa corrida muito menor, vai?!).
Chegada do treino de 10KM da Luíza (repare que a árvore nem se move!)

O fato é que, na última sexta-feira, eu fiquei muito - mas muito feliz em poder retornar à pista pra treinar com ela de novo!
Ontem pela manhã, voltamos pra lagoa. A planilha dizia pra correr 9km a 6min 30seg /km (velocidade maior do que a do primeiro treino de 10km dela). Começamos a correr com um vento frio e forte. No final do primeiro km, notei que ela não respirava direito por causa de uma coriza. Usei meus poderes mágicos e pedi a ela pra olhar pra um ponto fixo lá na frente. Comecei a falar de forma monótona e cadenciada. Depois de 400 metros eu pedi a ela pra respirar fundo pelo nariz e perguntei: cadê sua coriza?! Ela levou um susto! "Ué pai, o quê você fez?! Sumiu!!!). Não foi mágica, caro leitor. É que eu já fiz isso comigo mesmo tantas vezes enquanto corria, que simplesmente sabia que o "dorme" iria funcionar (só não tinha testado em outra pessoa correndo antes). E deu certo. Depois da barragem o vento frio deu lugar a um calor de mil graus. Como eu sabia que não haveria lugar pra comprar água, levei uma garrafinha pra ela durante todo o percurso (isso é que é pai bonzinho, hein filha?!?!?). No sexto quilômetro ambos estávamos bastante cansados (os 45 dias longe do asfalto me prejudicaram bem). Tomamos gel de carboidratos e continuamos a correr. Eu comecei a sugerir a ela que a água estava gelada. "A água na minha mão está gelada... Gelada... Muuuuuito gelada... Tão fria que vai até dar uma dorzinha na sua cabeça quando você beber, mas fará você se recuperar totalmente enquanto corre...). Ela levou na brincadeira... Depois que bebeu um gole deu mais alguns passos e então a mágica aconteceu de novo: a menina abriu um sorriso largo e deu o grito que os corredores dão quando ocorre a descarga de endorfina no corpo! E dessa vez eu estava lá pra acompanhar!!! E a moça ria! E corria! E ria... e corria rindo... Foi doido!
Fechamos o treino em 1 hora e cinco, exatamente como a planilha mandava. Minha patinha não deu sinal algum de dor e acho que já estou liberado mesmo pra voltar a correr devagar.
Curtindo depois do treino de 10KM da Luíza
Lição daquele dia: a felicidade mora é nas coisas simples da vida da gente!
Eu e o El Caminhando
Esperando pra correr o úlimo KM com a Íza

Fazendo mágica pra acompanhar a Luíza!


Descanso do guerreiro - com meus pais

Preparando pra correr o último KM com a Íza 

Alimentação antes do treino (repare na xícara de coruja!)

Os Amigos

Fazendo o jantar (o que é que essa foto tem a ver com a corrida, meu Deus?!?!)

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Divaldo Franco



Esta semana passei algumas das melhores horas da minha vida inteira! Tive o privilégio e a honra de assistir à palestra de Divaldo Pereira Franco, reconhecido como um dos maiores oradores Espíritas da atualidade, e o maior divulgador da Doutrina Espírita pelo mundo.

Em seus oitenta e sete anos, Divaldo está longe de ser um homem velho! Com bom humor contagiante e conteúdo quase sobre-humano (como ele consegue se lembrar de tantos detalhes???), ele transmite ao mesmo tempo, segurança, sabedoria e uma calma, uma paz no olhar - que emociona até quase às lágrimas quem com ele troca mesmo que umas poucas palavras.

Há tamanha eloquência em sua fala segura e firme (e absolutamente sem erros gramaticais), que é impossível não se deixar contagiar pela energia boa que dele irradia.

A história de Divaldo é linda! Ele devotou sua vida à causa espírita e às crianças excluídas das periferias de Salvador. Fundou a instituição de caridade Mansão do Caminho, que ajuda diariamente milhares de pessoas e abriga mais de três mil, centenas delas registradas como filhos do médium.

Pois esta semana eu vi e ouvi o jovem Divaldo pregar o Evangelho de N.S.Jesus Cristo, discorrendo com a energia de um garoto sobre o Perdão. Falar que "assisti à palestra" não exprime direito o que se passou. Não exagero ao dizer que "vivi" a palestra! Eu vivenciei, senti, experimentei, me emocionei, e o mais importante: eu aprendi!
Aprendi muito. Mesmo agora, transcorridos já alguns dias, a voz de Divaldo continua ecoando dentro da minha cabeça, como se fosse a voz do próprio Carpinteiro Galileu.
Desde aquela memorável noite que sinto crescer em mim um desejo enorme de me mudar, de me melhorar, de ajudar, me doar. De seguir os passos do Cristo, fazer com que ele viva dentro de mim.
Claro, não conseguirei erguer creches, adotar filhos nem escrever livros. Sou fraco demais. Mas ainda posso me mudar e passar a dar minha contribuição, mesmo que ínfima. Posso ajudar minha esposa, educar melhor os filhos, acompanhá-los, estar com eles, brincar com eles. Posso conversar com os amigos que estão passando por fase difícil na vida, posso fazer a diferença pra alguém. Posso fazer a diferença pra mim mesmo. Posso fazer com que se cumpra a promessa que me fiz: viver no hoje - e fazer com que eu seja melhor hoje do que o pária que fui ontem, e me fazer melhor amanhã do que sou hoje. É desafio maior que correr maratona (olha eu viajando na maionese light)... Mas aquela noite, aquelas palavras ditas por um jovem de 87 anos reacenderam a chama da vontade.

Divaldo autografou um de seus livros para mim (não vou nem falar o título, porque esse é o único que não empresto, não dou, não vendo, nem nada J É meu presente! Símbolo da mudança que quero ver operada em mim ). Ao me entregar o livro assinado ele olhou direto pra mim, como se enxergasse DENTRO dos meus olhos. Sorriu ternamente e me disse: “Muita Paz!” 
Eu ainda não posso dizer que vivo em paz, mas agora eu sei qual é o caminho para a paz que eu procuro. Vou calçar meu melhor tênis e, hoje mesmo, começo esta nova corrida: a corrida para minha paz interior.
Bora correr também?!