quarta-feira, 11 de julho de 2012

Maratona do Rio - 2012


Caro amigo leitor,
Antes de mais nada, peço-lhe desculpas por demorar a dar notícias da Maratona, mas é que ontem eu estava emotivo demais para escrever (além do cansaço, claro!!!).
É engraçado... eu passei meses e meses pensando em como seria este post. Às vezes, quando estava fazendo um treino difícil, eu pensava que não conseguiria completar os 42km e imaginava como iria lhe contar isto, de que forma iria escrever. Outras vezes, quando eu terminava um treino feliz da vida por ter corrido na chuva ou com uma música diferente, eu me sentia animadíssimo e pensava em como seria legal se eu pudesse lhe contar que venci a mim mesmo, que completei a maratona do Rio.
Hoje chegou o dia que tanto aguardei: o dia de escrever o derradeiro texto do blog que teve início quando percorri o primeiro KM do treino para a maratona que poderia mudar a minha vida.
Tenho ouvido muito sobre a lei da selva nro 322, que manda colocar TEXTOS CURTOS nos blogs. Mas hoje quero que o amigo leitor tenha paciência, porque imagino que este será um texto beeeem longo (eu tenho tanta coisa pra escrever...).
Para quem vem acompanhando minha trajetória mas não corre, inicio o relato com uma frase que li no blog Baleias: "... Eles me amam mas não são corredores. Eu também os amo e os entendo porque sei que não têm a dimensão do que significa desistir de uma corrida que você, não precisa fazer se não quiser.
Quem corre sabe o quão profunda esta frase é, e o quanto de verdade ela encerra.
Quando iniciei o treinamento para o Rio, eu me comprometi comigo mesmo que daria o meu melhor, que faria o que pudesse para ir o mais longe que conseguisse na tal maratona. Abri o blog primeiroKM na intenção de deixar registrado para meus filhos, e para os filhos dos meus filhos (e para os filhos destes, se ainda existir Internet até lá) que um dia um cara normal, gordo, hipertenso e com quase 45 anos de idade teve um sonho, e deu duro pra transformar este sonho na realidade mais bonita que ele conseguisse fazer.

Que você me perdoe uma vez mais, caro leitor, mas acho que estou escrevendo mais para mim mesmo do que para você. Isto é falta de consideração, eu sei. Afinal você acompanha meus textos, comenta os posts e - seguramente, torce por mim. Mas ainda estou emotivo, e gostaria que esta emoção ficasse registrada aqui no blog... (tô viajando, né? Texto mais sem sentido esse... Eu hein?!)

Mas voltemos à história da maratona.

Para entender o que houve na corrida, é preciso ver o contexto. É por isto que começo relatando a véspera da prova.
O sábado amanheceu ensolarado e, já no café, fazíamos planos para curtir a praia carioca. Nosso amigo Railer, que viria a se tornar peça fundamental nessa história toda, tamanho o suporte e ajuda que nos deu, combinou de nos encontrar em Ipanema. Fomos de metrô (coisa chique, pra quem é de BH). Nosso anfitrião conhecia o dono da barraca, de modo que ficamos confortavelmente instalados, com direito a cadeira de praia e quebra-sol (fundamental para corredores branquelos).
Andando de metrô

Chegando na praia

Mal aportamos e eu e o Rafael já corremos pra água (sabe como é, né? Mineiro quando vê mar fica louco! O El já tem isto no sangue!), de onde só saímos quando a pele começou a enrugar. Curtimos a praia até umas 14 horas e fomos almoçar um restaurante muito bonito que fica ali perto. Uma curiosidade: a praia deles é - acredite se quiser - ainda mais legal que Piúma Inesquecível: até banheiro eles têm (R$ 1,50 por pessoa. Mas eu pagaria qualquer coisa pra poder trocar de roupa antes de ir almoçar). Muito chique!

Depois do almoço, fomos caminhando até a lagoa Rodrigo de Freitas, de onde só saímos quando o sol começou a se por. Voltamos ao hotel para banho e embelezamento (embelezamento só para as mulheres, para mim e para o El foi só tomar banho e trocar de roupa mesmo!) e de lá seguimos para o restaurante La Mole, lugar muitíssimo agradável onde o amigo Miguel Delgado havia me convidado para jantar.
Chegando no restaurante para jantar

pode não parecer, mas estamos com fome!

Conhecer pessoalmente "os Baleias" já daria um post à parte! Quando cheguei ao restaurante, o Miguel ainda não havia chegado. Mesmo assim, fui até a mesa-Baleias para saldar os atletas que lá estavam. Qual não foi minha agradável surpresa quando eles me cumprimentaram efusivamente, muitos me chamando... PELO MEU NOME!!! Como diria minha filha: foi Doido demais!!! A noite de confraternização ficou completa quando finalmente o Miguel chegou. Tirei foto (eu queria pedir autógrafo, mas fui impedido por meus familiares sob a justificativa de que seria muita "pagação de mico") com ele e peguei valiosas dicas dos experientes Baleias, que muito me auxiliariam no dia seguinte.
Encontro com os Baleias
Matando a fome!
Ficamos fortinhos depois do jantar :)

Cheguei de volta ao hotel às dez da noite, quando teve início o ritual de separação da vestimenta que o "grande guerreiro" aqui iria usar na batalha que me aguardava ao raiar do próximo dia. Como em todas as corridas, a Eneida pregou o número de peito na camisa (tive que usar o plano B e correr com outra blusa, porque a do kit - para meu desespero - não tinha mangas. Minha pele sensível e delicada não resistiria tanto tempo sob o sol que eu imaginava, estaria presente).
Quando finalmente fui deitar, estava mais ansioso do que noiva no casamento. Mesmo assim, com a ajuda de alguns... alongamentos, consegui dormir (relativamente) tranquilo.
Três e quarenta e cinco da madrugada eu já estava de pé. Comi pão integral com requeijão, tomei suco de laranja e fui me aprontar. Parecia que eu era um piloto de fórmula 1 que estava vestindo macacão, capacete, luvas...
Empanturrei as partes masculinas de vaselina, vesti o short com cuidado, calcei meias e tênis. Eu não estava nervoso. Ao contrário, estava curtindo aquilo. E a Eneida lá, acordadíssima às 4 da madrugada ouvindo meus planos para a "batalha".
Depois de mil anos, finalmente deixei o quarto do hotel. O Carlos e o Toninho (meu xará, treinador do Carlos e dono da Movimenta Assessoria Desportiva) já estavam lá.
Tiramos fotos para que nossa saída do hotel ficasse guardada para a posteridade e pegamos o taxi que nos levaria ao ponto dos ônibus da Maratona.
Foi apenas ao deixar o saguão do hotel que percebi que... ESTAVA CHOVENDO!!! Aquilo eu não previ! Mas tudo bem, ao menos não correríamos sob o sol do sábado.

Foi quando chegamos ao local de embarque que a ficha caiu pra mim. Lá eu finalmente compreendi o que eu estava por tentar fazer. Era noite ainda, e milhares (muitos milhares, muitos milhares mesmo!) de pessoas em trajes de corrida andavam de um lado para o outro.
E eu também estava lá.
Eu era um deles.
Entramos no ônibus, que partiu logo em seguida. De repente fiquei mudo, pensativo. Enquanto o ônibus fazia a viagem para o Recreio dos Bandeirantes (1 hora e 10 minutos até o destino, sem parada!) eu também ia fazendo comigo mesmo uma espécie de "viagem". Meu pensamento voltou no tempo e eu me pus a pensar em tudo que fiz para que aquele dia finalmente chegasse.
Lembrei das pesquisas que fiz na Internet, dos blogs que acabei conhecendo. Lembrei dos conselhos da Yeda, blogueira, corredora e amiga, a quem ainda não tive o prazer de conhecer pessoalmente. Lembrei do Ricardo, que me emprestou o livro mais motivante já escrito sobre corrida de rua. Pensei muito nos Baleias e na forma com que encaram o esporte, no modo otimista que eles têm de enxergar as coisas.
Pensei na minha tia Rita, a quem elegi para madrinha desta empreitada faraônica. Quase pude reler mentalmente os comentários carinhosos que minha mãe SEMPRE me deixou lá no blog. Puxa! foi tanta coisa... Lembrei dos treinos, do medo de correr depois do acidente de carro, do problema da pressão alta, da falta de tempo para treinar - justamente no mês de junho...
Mas mesmo com tudo isto eu estava ali! Olhei pro Carlos, que seguia do meu lado no ônibus e senti uma sensação de calma e segurança. Eu não estava sozinho.
De certa forma, já me sentia vencedor.
Tudo bem, talvez tenha sido só a "teoria do contente", como diz o Stefan (se eu não completar a prova, ao menos cheguei até aqui). Mas ainda assim, o sentimento de vitória já estava em mim. Eu consegui disciplinar meus treinamentos, treinei meu corpo e minha cabeça. Eu me melhorei. E isto era - sem dúvida - uma vitória para mim.

O pensamento foi interrompido quando o ônibus chegou ao local da largada. Chovia forte e, por sorte, conseguimos nos abrigar sob uma marquise. O relógio marcava 6:10 da manhã, e já havia gente de tudo quanto é canto do mundo espremida sob a laje.
Conversamos animadamente sobre muitos assuntos. Não sei se foi estratégia do Toninhoo ou não, mas a conversa não foi sobre corrida. Fizemos conjecturas sobre a luta do Anderson Silva (nenhum de nós assistiu, claro!), falamos de comida, da cidade do Rio e de um monte de outras coisas. Faltando uns 15 minutos para começar a prova, fui ao banheiro da morte (de onde, felizmente, saí com vida) e me dirigi para a largada.
Sete e trinta. Uma sirene alta marcou o início da prova. Meu coração disparou e um arrepio percorreu minha espinha. Agora não tinha mais volta. Como em tantas e tantas vezes noutras corridas, passei pelo pórtico de largada, zerei o cronômetro, fiz uma breve oração e ingressei uma das atividades mais prazerosas da vida.
De repente me vi correndo bem no meio da multidão! Uns sorriam, outros gritavam, outros faziam piadas. Amigos corriam lado a lado. Havia grupos de cinco ou seis corredores correndo juntos e conversando animadamente.
Liguei o iPod, me desliguei do mundo e apenas corri. Putz, caro leitor! Se você não corre, não conseguirá entender como é (o que é uma pena). Não consigo colocar em palavras a sensação de liberdade que me inundou, a mesma que eu via estampada nos rostos dos que corriam comigo. O mar agitado, a chuva fina, o vento frio. Uma reta que parecia não ter fim...
Era o caminho a ser percorrido. Aquela era a batalha, a minha batalha. Eu quis estar ali, lutei pra isto. Treinei, me esforcei. E eu ESTAVA lá! Nunca na minha vida vou esquecer aquele início de prova. Nunca.
Railer se preparando para a Family Run

O Carlos e o Toninhoo seguiram na frente, isto já estava combinado: cada um iria correr no seu próprio ritmo, tentando superar seu desafio pessoal.
Até o sétimo quilômetro não ultrapassei uma pessoa sequer. Ao contrário, todo mundo passava por mim. Eu achei aquilo estranho, mas mantive minha passada. Mesmo que eu fosse o último a chegar, mesmo que eu nem chegasse no final, tudo já tinha valido a pena - e eu não iria desperdiçar aquela corrida tão gostosa tentando fazer um tempo para o qual não estava preparado. Segui meu caminho com oRappa cantando pra mim.
Mesmo sem sede, bebi um pouco d'água e Gatorade em todos os postos. Aliás, na minha modesta opinião, a organização da prova foi perfeita! Havia água e Gatorade a cada 5km, além de pontos de apoio com ambulâncias.
Lá pelo km 16 ou 17 a chuva apertou e o vento ficou muito forte. Felizmente ventava a favor do percurso, o que ajudou um pouco na subida. Em determinado momento, uma corredora passa por mim, me dá um tapinha no ombro e diz: "vai com Deus, Toninho! Boa prova!", era a Lana Gomes do grupo Baleias, a simpatia em pessoa! Retribui os votos de boa corrida e deixei a moça seguir em frente. Esses Baleias são gente boa demais!...
O tempo passou e quando vi a placa de 20km fiquei surpreso! Acho que eu me desliguei tanto que nem percebi direito que já me aproximava da metade da prova. Foi só pensar nisto e logo comecei a me sentir cansado! "A mente da gente é mesmo uma coisa poderosa", pensei. Por sorte, lembro que a música mudou e meu pensamento voou para algum outro lugar.
Na subida do elevado vi um cara de camisa cinza acenando pra mim. Era o Carlos! Eu pensava que não o veria mais na prova e de repente lá estava ele! Mas não tentei alcançá-lo. Preferi seguir meu ritmozinho de 6:30min/km. A subida foi dura, mas ver o mar batendo no penhasco lá embaixo foi tão bonito que nem me lembro de ter sentido cansaço. No meio da subida encontrei o Carlos novamente e passamos a correr lado a lado.
No alto da Niemeyer, uma surpresa: uma taboa que apoiava os copos d'água saiu voando com o vendo e atingiu em cheio minha canela esquerda. Não senti dor, mas fiquei preocupado. O cara da organização ajudou a retirar a madeira que - aliás - havia atingido também uma corredora que estava ao nosso lado. Nem parei. Continuei correndo e segui em frente.

À medida que as placas de quilometragem foram passando, meu corpo foi sentindo o cansaço. Lá pelo Km 30 minhas pernas já doíam e a sensação provocada pela roupa molhada incomodava. O otimismo deu lugar à introspecção e precisei fazer força para me concentrar nas passadas.
O iPod começou a tocar uma música que eu ainda não havia ouvido. Tentei prestar atenção na letra, até para me distrair da dor nas pernas, e então outra coisa estranha aconteceu. Acho que o esgotamento do corpo, as roupas molhadas e as horas consecutivas correndo sem parar abalam o lado psicológico da gente e nos deixam mais emotivos. Zé Ramalho cantava com Ivete Sangalo um frevo que dizia:

"...Seu moço eu venho de longe
Não sei onde vou chegar
Não tenho medo de seguir
Mas tenho medo de voltar

Acreditar no que eu acreditei
E trabalhar para quem trabalhei
Amar, amar quem eu já amei
Passar caminho que eu já passei".

Lembrei de meus vinte anos de casamento, de tudo que fiz de errado, do que consegui corrigir e das cicatrizes que deixei em quem amo. Pensei nos filhos, eles que - para mim = ainda parecem duas crianças pequenas e indefesas, à mercê de um pai por vezes ausente e distante.

Não acho que é vergonha dizer que lágrimas grossas correram dos meus olhos e se misturaram ao molhado da chuva. Não segurei nada, chorei mesmo (obviamente, deixei o Carlos ir na frente, para ele não presenciar aquela cena de novela)!
E aquele choro me limpou por dentro. Olhei para a placa e vi que estava no km 37. Senti a alma leve e solta, que contrastava com as dores no corpo todo moído.
Nos quilômetros finais vi muitos corredores parando por causa de dores ou cãibras. Fiquei com medo de também eu não conseguir terminar. As pernas estavam muito pesadas e meu ritmo diminuiu para 6:40 min/km (só olhei pro relógio umas três vezes durante toda a prova). Faltava pouco, mas as placas dos KMs nunca chegavam.
A placa do 39o Km apareceu. As pernas estavam pesadas e deu vontade de caminhar um pouco. Mas faltavam "só" mais três quilômetros. Era tão pouco! Aumentei o volume do som e tentei me manter concentrado em não diminuir o ritmo, ao menos até o próximo quilômetro. Pensei no meu pai, e aquele pensamento me deu força. Fui correndo, correndo, até que - depois de mil anos - a placa do km 40 finalmente apareceu. Gritei com força: "Pai, este km foi pra você!" É lógico que o manteiga-derretida aqui deu mais uma seção de chororô.
Faltava pouco! Eu ia terminar, eu TINHA que terminar!
Era a placa mais bonita da corrida: 40km! Um número redondo, grandão! Uma distância que eu nunca havia alcançado antes.
Com o ânimo redobrado, continuei o mais firme que minhas precárias condições físicas permitiram. As pernas doíam pra caramba e comecei a sentir muito frio.
Continuei correndo, agora com muita dificuldade. Como gritar durante a prova já estava virando moda, deixei a emoção rolar no melhor estilo sertanejo/novela mexicana e, num certo momento, gritei bem alto o nome da minha filha. Um corredor que estava à frente também gritou um nome que não me lembro e disse "'Fulana', eu te amo!". O pessoal que corria ao redor bateu palmas e ouvimos frases de incentivo. Foi emocionante.
As pernas passaram a ter vontade própria. Ficaram bambas e queriam parar. O frio que eu sentia aumentou bastante. Não estava tão seguro de que conseguiria chegar ao final.
"Quando não conseguir mais correr, trote.
Quando não conseguir trotar, caminhe.
Quando não conseguir caminhar, use uma bengala.
Mas nunca se detenha."
A frase de Madre Teresa de Calcutá veio à minha cabeça. Aquilo era um sinal, só podia ser um sinal! Deus estava comigo. Espíritos Bons estavam comigo. Senti a presença dos amigos que que - sem dúvida - estavam torcendo por mim e me apoiando com bons pensamentos. Eu não ia parar.
Eu não parei.
A maior surpresa de todas estava reservada para os momentos finais. Eu havia combinado com a Eneida que ela NÃO IRIA para a chegada (sabe como é, Rio de Janeiro, violência, crianças cansadas...). Como este "combinado" foi uma ORDEM DIRETA E EXPRESSA que dei a ela, eu nunca iria esperar que a esposa - depois de 20 e tantos anos - desse para me desobedecer. Além do mais, estava chovendo (sabe como é: mulher, cabelo, chuva. Não! Ela não iria MESMO!).

Mas nos metros finais, quando eu já estava entrando no funil de chegada, vejo minha família inteira sorrindo e gritando pra mim!
Nada, nada no mundo paga isto!
E, pela terceira vez, chorei pra caramba. Desta vez, o mico foi bem diante da plateia! Mas não deu pra evitar (foi mal, família), era emoção demais para um coração cansado de tanto correr.
Dei a mão pro El e cruzamos juntos a linha de chegada, eu chorando e ele me olhando com cara de espanto (acho que ele ainda não tinha visto o pai naquelas condições!).

Todo mundo me abraçou. O Carlos, a Fernanda e o pequeno Tiago também estavam lá. O Railer veio correndo e, precavido como sempre, já trazia na mão um spray anti-inflamatório.
Foi uma grande festa!
Passada a emoção da chegada, fui pegar minha merecida medalha - e ai, outra surpresa: ao invés de simplesmente me entregar o objeto, o funcionário me chamou pelo nome (nossos nomes estavam inscritos no nro de peito) e me disse algo como: "Antônio, meus parabéns por ter completado a maratona do Rio. Esta medalha é sua". Pode parecer bobagem, mas esses detalhes fazem diferença pra quem corre. Eu adorei.














Como o bebum que não se lembra de como voltou pra casa, também eu não consigo recordar como tive forças para ir caminhando até a casa do Railer.
Graças a Deus, tudo funcionou perfeitamente!

Foi, sem dúvida alguma, a melhor, mais bonita, mais longa e mais emocionante corrida da minha vida!
Mesmo que outras maratonas venham (já nem sinto mais o peso de meus 45 anos, e nem os 92 quilos do meu corpitcho me metem tanto medo) no futuro, mesmo que existam lugares mais belos, corridas ainda mais organizadas, mesmo assim, eu nunca me esquecerei que em 8 de julho de 2012 eu corri SEM PARAR PRA NADA durante exatas 4 horas, 44 minutos e 44 segundos (saiu o resultado oficial no site) para percorrer os 42 quilômetros e 200 metros mais incríveis da vida.
Eu pensava que, com a realização da maratona e o consequente término do período de treinamentos, encerraria também o blog primeiroKM (já que ele foi criado especificamente para o registro desta jornada). Mas fiz amigos pelo blog, voltei a ter contato pessoas queridas (oi Tia Rita!), aprendi a gostar de escrever (ainda que você não sinta o mesmo gosto em ler o que escrevo! Sei que não sou bom nisso, mas gosto de escrever minhas aventuras!), de forma que - se o amigo leitor continuar tendo paciência comigo e continuar me dando a honra de sua presença neste espaço, quero continuar com o blog.
Acho que a coisa ainda não acabou. Ainda há corridas por fazer, treinos pra relatar, experiências pra compartilhar...
Então, ao contrário do que sempre pensei em fazer, não encerrarei este post com o "Adeus Amigo".  As frases finais do texto serão:
- muito, muito obrigado por ler meus textos, aguentar minhas lamúrias e viver comigo a experiência proporcionada pela corrida de rua.
- até breve amigo! Domingo voltarei a correr, se Deus quiser. Semana que vem, te conto como foi!
É nóis!!!

sexta-feira, 6 de julho de 2012

A caminho

Dicario de bordo - São três e trinta da tarde e estou escrevendo de dentro do avião que está nos levando para a grande aventura da primeira maratona, no Rio. Estamos em um grupo de 20 pessoas e a turma está muito animada. No embarque tiramos fotos, conversamos muito, fizemos piadas e brincadeiras. Mas notei que alguns de nós estão mais ansiosos e apreensivos que os outros. Só agora a ficha está caindo para mim. Começo a compreender o tamanho do desafio que me aguarda. E isto está causando um certo frio na minha barriga. Assim que estacionei no aeroporto, cumpri o que havia combinado comigo mesmo: me desliguei de todos os problemas do dia a dia e estou tentando relaxar o máximo possível para aproveitar o passeio. Meu pensamento está agora em tudo aquilo que fiz para chegar até aqui (e não, não estou me referindo à dificuldade para estacionar). Foram vários os meses que tenho passado com esta idéia fixa da corrida na cabeça, com esta distância de 42km badalando no meu cérebro como o sino da igreja. Fazendo uma auto-análise, concluo que o mais difícil durante este tempo não foi treinar. Ao contrario, isto foi gostoso. O complicado foi me manter focado. Foi conseguir tempo para correr, foi conciliar trabalho e família com o treinamento. Foi não desistir quando o desanimo bateu, nem quando a pressão arterial subiu, nem quando a obra deu problema. Mas eu estou aqui! E, só por isto, já me sinto vencedor. Venci o cansaço, venci o stress, a preguiça nos dias de chuva e os problemas do cotidiano. A conclusão a que chego é de que o esforço valeu a pena. Sinto-me mais forte, mais alegre e mais confiante do que quando comecei a treinar. Se vou chegar no final da prova, isso eu realmente ainda não sei, mas sei que vou curtir para caramba cada quilometro que eu conseguir percorrer. E quem sabe, se eu me distrair com o visual, com aquele clima de corrida, com todo aquele ambiente, quem Sabe em algum momento, cinco ou mais horas depois de começar a correr, eu não me veja de frente para o pórtico de chegada? Sonhar não faz mal algum, né?!

Agora são dez da noite. Acabamos de chegar do jantar e estamos confortavelmente instalados num hotel aqui em Copacabana.


Encerro este post com a foto que tirei com o Ricardo no domingo em BH. O Ricardo e sua família têm me dado muito apoio nesta jornada rumo à maratona. A frase na camisa dele é também um incentivo para que eu chegue no final.Agora vamos descansar que amanhã tem mais.Postarei um novo texto amanhã, contando como foi a véspera do dia D, e a quantas anda o frio no meu estômago.É Nóis!

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Preparativos




O penúltimo final de semana antes do grande dia da Maratona do Rio (8/7) foi cheio de atividades. No sábado, acordei de madrugada para ir trabalhar em São Paulo. Felizmente tudo correu bem, mas só cheguei de volta em casa às 9 da noite - e com uma fome de leão (não há tempo para almoço em SP, só um sanduíche leve).
Eu estava exausto e pensei em só conversar um pouco com a Eneida durante o jantar e depois cair na cama. Mas a conversa estava boa e resolvi trocar a lista de músicas do iPod antes de dormir. Eneida ficou lá comigo e fomos conversando e ouvindo as músicas, ela sugerindo umas, "vetando" outras (funk carioca não! PelaMorDeDeus!). Quando dei por mim, já passava da meia-noite!
Preparei o tênis, roupa e acessórios para o treino de domingo e fomos dormir.
Como a programação social para ontem era intensa (a Eneida queria ir ao Shopping comprar uma sandália para a Iza e depois iríamos à festinha de aniversário do Miguel - que, por sinal, estava ótima!), tive que ir correr bem cedo, para conseguir voltar a tempo para a "maratona de atividades".
Faltando cinco para as oito, iniciei o penúltimo Longão antes do grande evento. Desta vez eu estava preparado (ou achava que estava!): levei dois saches de gel para me alimentar durante o treino, dinheiro pra comprar água e gatorade, e ainda uma barrinha de cereal para comer depois da corrida.
Meu plano era correr o tempo todo a 7min/km, porque este é o ritmo que pretendo correr no Rio. No começo foi difícil porque toda vez que eu olhava pro relógio, a velocidade estava maior que o planejado e eu tinha que diminuir a marcha. Perto do quinto quilômetro um corredor me ultrapassou e notei que ele corria com o "inquebrantável manto coral", camisa típica da equipe Baleias. Apertei o passo até alcançá-lo e perguntei pelo Miguel.
Após me dizer que Miguel estava bem, Ailton (este é o nome dele) continuou conversando comigo sobre corridas, foi um dos papos mais legais, mais descontraídos que já tive com outro corredor. Ele me disse que corre há pouco menos de 4 anos e que estava treinando para a maratona do Rio. Quando eu disse que também correria lá, a conversa ficou mais animada ainda. Ailton me falou de sua rotina de treinos e de como a corrida mudou sua vida.
Ele até me convidou para entrar no grupo Baleias (achei super-legal o convite, mas sou um lobo solitário, não sei se tenho a "alma Baleias" em mim), o que me deixou emocionado. Seguimos juntos até o sétimo km e eu parei pra comprar água.

Ailton continuou sozinho e eu fiquei pensando em como o espírito de confraternização está presente neste esporte...
Peguei a água rapidamente (só 38 segundos de pausa) e voltei a correr, desta vez no ritmo mais lento: os meus 7km/min. Na altura da Igreja de São Francisco, a rua estava fechada para uma corrida que estava acontecendo. Diferentemente da maioria das provas, a largada desta - como vim a descobrir depois - havia sido no Marco Zero. E o mais curioso: durante o percurso, fui percebendo que haviam pouquíssimos homens na prova. Achei aquilo estranho e pensei "é, as coisa tão mudanu mesmo. As muié vão invadí é tudo quanto é lugá dessi mundão grande sem porteira"...
Só quando passei pelo pórtico de chegada é que descobri que a corrida era SÓ PARA MULHERES (ai é que eu entendi porque todos ficavam olhando desconfiados pra mim e pro Ailton, quando corríamos lado a lado no canto da rua... Vexame total!)

A temperatura na casa dos 20 e poucos graus contribuiu muito para a sensação de bem-estar que eu estava sentindo. Estava tudo perfeito! No nono km abri o primeiro gel (morango silvestre, eu acho). Não estava nem um pouco com fome, mas a idéia era justamente me alimentar ANTES da fome chegar, pra ver como eu me sairia no dia da maratona. Tomei o gel, bebi o resto da água que eu estava guardando, aumentei o volume dORappa e continuei no meu ritmozinho cuja média estava em 6:45km/min (tive que correr um pouco mais rápido no trecho em que acompanhei o Ailton). No décimo quarto km parei novamente pra comprar água (42segundos) e decidi... VOLTAR!
Meu plano inicial era fazer 24km, mas pensei "se eu voltar por onde vim, farei 28km. Está tudo tão gostoso que seria uma pena desperdiçar esta manhã", e lá fui eu: fiz a volta e saí correndo feliz da vida com a garrafinha de água na mão.
No km 18 abri o segundo sache de gel, tomei com um gole d'água e continuei firme. Depois de algum tempo tive outra idéia maluca: "e se eu entrar na praça e correr em direção ao Ouro Preto? Poderia 'arredondar' o treino para 30km!" Ai eu me animei de vez! Contornei a praça e corri dentro do bairro até o Garmim marcar 1km. Retornei para a lagoa e parei pela última vez comprar gatorade. Mal recomecei a correr e me bateu uma fome INEXPLICÁVEL! o estômago roncou e a sensação foi muito estranha. Sem pensar em mais nada, peguei a barrinha de cereal que estava guardando pro final e mandei ver.
Logo na primeira mordida, percebi a burrice que havia feito. o farelo se transformou em um bolo na minha boca e eu não conseguia engolir. Que coisa esquisita: você morrendo de fome, a comida na sua frente e você não consegue comer. Irgh!!!
Como eu estava correndo enquanto comia, o jeito foi tentar beber o gatorade, mas eu estava morrendo de medo de engasgar.
A luta perdurou por uns bons 500 metros e, felizmente, tudo acabou bem. Mas ficou a lição: se grandes cientistas desenvolveram comida em gel, algum motivo eles tiveram. Nota mental: barra de cereal durante a corrida não funciona - MESMO!

Me recuperei do susto e continuei firme nos 6km finais. A esta altura a mente estava tranquilíssima, mas o corpo não estava com esse bom-humor todo. A perna direita reclamava com a esquerda, os ombros queriam subir no pescoço...
Usando uma abordagem mais psicológica para resolver a situação, tentei desenvolver a técnica do domínio da mente sobre o corpo. Trata-se de um exercício em que o cérebro fica falando o tempo todo: "vai corpo! vai corpitcho! Não pare agora!", mas o corpo - que não estava nem ai - se rebelou de vez e mandou a mente se fulminar: "vá se fulminar, mente! Não é você que está se desmanchando de suor aqui! Não me enche o saco! Aliás, não me enche parte nenhuma!"
Era uma batalha de vida ou morte (mais morte do que vida) que se travava diante - e dentro - de mim! Felizmente, passou um casal de corredores e resolvi acompanhá-los. O corpo fez uma trégua com a mente e seguimos os três - eu, meu corpo e minha mente - tentando acompanhar os dois corredores. O iPod começou a tocar a música da Adele (If It Hadn t Been For Love. Um solo de banjo fantástico!) e tudo virou festa de novo.
Faltando exatamente 1000 metros para completar os 30km o cansaço voltou com força, mas nesta hora a mente já havia ganhado a guerra. Eu fiquei dizendo mentalmente para mim mesmo: 900 metros, 800 metros... Quando dei por mim, já estava vendo o carro estacionado lá no final!
Eu consegui, amigo leitor! Eu corri 30km!!! Você acredita nisso?????!!!!! UHU!!!!
Infelizmente não houve tempo para a tradicional comemoração. O relógio já marcava 11:24 da manhã. Entrei no carro e já fui ligando pra casa.
Minha família tem uma característica interessante: todo mundo fica mal humorado quando está com fome. Ontem não foi diferente: encontrei todos com cara de poucos amigos em casa e tive que usar todos os meus poderes para resolver a situação. Tomei banho rápido, coloquei uma roupa e saímos correndo pro restaurante. Nunca na minha vida eu achei a comida do Fazendinha tão gostosa!
De lá, seguimos para o shopping pra comprar a tal sandália da Iza. A essa altura meu corpo já havia esfriado e minhas pernas (aquelas mesmas que estavam brigando uma com a outra na corrida) ficaram duras e doloridas que eu quase não conseguia me mexer. Nunca fiquei tão feliz por ter comprado um carro que não precisa passar marcha! Mas mesmo assim doía tudo!
Minhas "partes masculinas" ficaram assadas e aquilo incomodava bastante! Felizmente, não fiquei com bolhas nem dores nos pés, mas as pernas doíam pra caramba! No caminho, eu rezava o tempo todo para que houvesse uma poltrona livre no saguão do shopping.
E Deus existe! Prova disto é que a poltrona estava lá, só me esperando!!!
De lá, fomos para a festinha do Miguel (tinha uma canjica de amendoim deliciosa!). Na saída, eu só conseguia pensar na minha cama!
Mas a programação ainda não havia terminado. Fomos para casa dos meus pais (graças a Deus, tudo bem com eles!), de onde ganhamos da minha mãe uma tigela com massa para pão de queijo e lingüiça com cebola para o recheio!
Acabei indo deitar lá pelas dez da noite. Mas foi um dia inesquecível!

Não sei se estou pronto para a maratona, mas esse treino de ontem animou bastante!

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Minha Maratona de 5km - por Eneida Freire


Caro leitor,
Ao postar o relato de minha participação na MMIBH (prova mais sofrida que já corri), pedi à companheira Eneida (gatinha que tem me aturado há mais 20 anos) que deixasse aqui no blog o registro de como foi sua participação na prova e de como é que funciona, na visão dela, o maravilhoso mundo da corrida de rua.
Ontem à noite, me emocionei ao ler o que a moça escreveu. Por dificuldades operacionais (dificuldades operacionais=trabalhando sem parar desde 8horas), só agora tenho condição de postar o texto. Aqui vai:
*
Bom, fui convidada a vir aqui para contar sobre a minha corrida.
Quanto prestígio!
Sim, a minha humilde corrida de 5km!
Humilde porque todas as pessoas que passam por aqui, vejo que correm muuuuiiiiiito mais de 5 km! Hehehehe
Eu não tenho, de forma alguma, a pretensão de correr mais que isso, que para mim já é uma maratona.
Confesso aqui que sempre fugi das aulas de educação física, e que o autor desse blog foi à minha escola, para me conhecer melhor, em um dia de campeonato de vôlei!
(naquele tempo era o auge!)
Hello??????
Realmente ele não me conhecia, e é claro que eu não me encontrava na escola em dia de campeonato! Hahahaha
Nunca fui afeita a atletismos.
Bom, aquela coisa, atrapalha o cabelo, quebram-se as unhas, tênis não é nada glamouroso etc etc.
Daí, acompanhando o autor desse blog, porque posso não ser atleta, mas sou companheira pra car@#$%%, como dizem os meninos, então estive presente em todas as corridas que esse camarada correu.
E sempre me emocionei com a determinação, com o espírito não competitivo que as corridas de rua têm, pois apenas se tem em mente a sua própria superação, o seu próprio combate, a sua própria determinação em vencer mais aquela etapa
Sim, essa foi uma das coisas que aprendi com o autor desse blog.
Iniciei, pois, a passos lentos, literalmente, minha maratona de 5km!
Eneida na MMIBH 2012
E me venci! Calcei, pois, um par de tênis! Oi?!
É, gente boa, e a sensação é realmente maravilhosa, a de vencer a si mesmo, um passo e um dia de cada vez!
Recomendo!
E obrigada, meu beinS2, pela oportunidade de minha humilde contribuição!
@Eneida Freire
HTTP://tengasuperacion.blogspot.com.

Eneida já descansada, de volta ao maravilhoso mundo da moda :)

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Eles venceram!


Enquanto aguardamos o relato da Eneida sobre sua participação na MMIBH, permita-me o leitor amigo, falar sobre um feito de outrem - mas que estou comemorando como se fosse meu.
Como eu já disse em mais de uma ocasião, a idéia (com ou sem acento, dependendo de sua idade, caro leitor) do blog é relatar meu longo e difícil caminho para realizar minha prova dos sonhos: correr uma maratona na vida. Desta vez porém, não vou falar aqui de mim, mas de um trio que conquistou grande feito, e que serve de exemplo para mim.

Sabe,
Grande parte dos humanos que correm, fazem percursos de 5 quilômetros. Estes são considerados seres "normais" e "saudáveis" pela sociedade. Correm muito os danados, posto que 5km é bem mais do que uma idinha até a padaria (se o leitor que não corre tem dúvida, que marque no carro e verá que 5km não é molezinha não!).
Além destes, há o grupo dos que correm 10km, já sendo classificados como "corredores excêntricos", "que gostam de sofrer". De fato, correr durante quase uma hora sob sol forte não é coisa de gente muito normal. Alguns terminam o percurso com bolhas nos pés, outros chegam a ter alucinações no final...
Mas há piores! Existem indivíduos que, não contentes com esta distância, (ou talvez sofrendo de stress pós-traumático, ou outro distúrbio neurológico... vai saber!) decidem se embrenhar por percursos de - pasme! - 21km!!!
Estes são classificados pela literatura médica especializada como: D.M.R. - Débilus Mentalis Retardadus, ou simplesmente, doidos.
Por fim, há os casos patológicos crônicos: aqueles que, querendo provar a si mesmos que podem superar seus próprios limites, decidem treinar corpo e mente para suportar a distância inimaginável de 42 quilômetros!
Para estes a literatura médica especializada ainda nem conseguiu um nome apropriado.

Escrevi tudo isto porque um cara que eu não conheço (só o vi uma vez, mas não conversamos) pessoalmente, mas a quem muito admiro por sua determinação e força de vontade, concluiu no último final de semana nada menos que a COMRADES Marathon.
Para o leitor não totalmente familiarizado com o maravilhoso mundo das corridas de rua, a COMRADES é uma Ultramaratona com percurso de 89,2km entre as cidades de Pietermaritzburg e Durban, na África do SUl. Chamada de "the epic journey", a COMRADES é das mais famosas (seguramente a mais emocionante) Ultramaratonas do mundo.
Pois é, o Miguel Delgado correu por quase 12 horas para chegar ao estádio de Durban (imagine o leitor qual será a emoção de terminar num estádio uma prova de quase 90km!). Ele venceu a si próprio. Provou pra ele mesmo que podia. Superou os limites insuperáveis. Deve estar todo quebrado a esta hora (estou aguardando ansiosamente o relato dele no blog Baleias), mas ele conseguiu!
Com seu feito, Miguel e seus amigos Wu e Marinês, me deixam o exemplo. Eles conseguiram, então - se eu tiver determinação suficiente, disciplina suficiente, e força de vontade suficiente, eu também posso alcançar meu objetivo. Talvez não seja este ano. Ou talvez seja... O fato é que a conquista do trio redobrou minha motivação!
Eu vou pro Rio disposto e confiante (apesar de com preparo físico deficiente, dado o pouco treinamento), e vou dar o melhor de mim mesmo.

Ah, por falar nisso, deixe-me lhe dar uma notícia boa! Ontem eu fiz o teste ergométrico (a enfermeira me depilou! De Novo! meu peito já tá todo pinicando).

Ainda não levei o resultado pro meu cardiologista, mas o médico que fez o exame é cardiologista da minha mãe - e me já me disse que estou apto a encarar a maratona!
Isto já é uma vitória, não é?!

terça-feira, 5 de junho de 2012

MMI-BH 2012


No último domingo, dia 3, participei com minha mulher da edição 2012 da Meia Maratona Internacional de BH.
Corrida de rua é sempre uma festa, um acontecimento. A coisa toda começa bem antes, no dia de retirar o kit de participação. E desta vez não foi diferente: na sexta-feira fui com a Eneida ao Shopping para pegarmos o tal kit e aproveitei para tirar uma casquinha da esposa (momento raro pra quem tem dois filhos em casa!).
Como tudo que é bom, o passeio durou pouco porque o escravinho aqui teve que ir pro lerê na parte da tarde.
No domingo, acordamos cedinho, lanchamos, trocamos de roupa e ficamos esperando o Pedro, namorado da Luíza. A casa estava com clima de viagem de férias, cada um correndo para um lado... Assim que o Pedro chegou, rumamos para a lagoa da Pampulha.
A Eneida iria correr a prova de 5km, eu havia me inscrito para os 21km e o restante do grupo (Iza, El e Pedro) ficaria na torcida.
A largada da turma dos 21km foi dada pontualmente às 7:30hs (meia hora antes da turma que correria os 5k). Como chegamos na praça faltando 5 minutos, tive que descer sozinho do carro e correr para a largada. Resultado: comecei a corrida sem platéia nem nenhum dos meus colegas corredores por perto. Mas tudo bem, eu estava lá! Era isto que importava.
Como fiquei quase duas semanas sem treinar direito, a prudência me mandou ir devagarinho. Obediente que sou, segui a ordem da consciência e fui só curtindo a corrida, acompanhando o ritmo da multidão.
Ao fim do primeiro km, senti uma pedra entrar na sola do tênis. Bati o pé no asfalto, xinguei um pouquinho e, como nada adiantou, continuei a correr com a tal pedrinha incomodando.
Ao chegar à placa do 7o km, o incômodo já havia se transformado em dor no pé. Não havia outro jeito: tive que parar. Ao tirar o tênis, descubro que a tal pedra era na verdade, a espuma do chip (os tênis Nike vêm com um "buraco" pra guardar um chip. O buraco é preenchido com uma espuma rígida)! Joguei a maldita o mais longe que consegui, calcei novamente o tênis e voltei para a prova. Mas o estrago já estava feito: uma bolha do tamanho de uma pequena moeda havia se instalado no pé esquerdo. Droga! Já fiz trocentas corridas com bolha no pé, de forma que aquilo não foi exatamente uma novidade na minha carreira.

Achei a prova bem organizada, com muitos postos de água. O tempo estava quente e eu pude dar uma de Queniano, jogando um copo inteiro d água sobre o boné (sempre adoro essa parte!). Lá pelo quilômetro 13 bateu uma fome tão grande quanto repentina. O retardado aqui havia comido só um pãozinho com margarina antes de sair de casa. Trouxa! Burro! Mané!
A cada km a fome aumentava mais e mais. Comecei a ficar desanimado, com o estômago embrulhado, cansado e ainda com a tal bolha fazendo o pé latejar. Mas você acredita que, mesmo assim, eu estava curtindo a prova?!
Encontrei uma senhora de uns 50 e poucos anos que corria um pouco à frente, num ritmo parecido com o meu. Apertei o passo até alcançá-la e corri junto com ela por um bom tempo. Até que chegamos ao zoológico. O lugar é lindo! Apesar de ter uma subida longa, o percurso de uns 2km é todo arborizado. Para quem já está todo suado e cansado de correr no sol forte, aquela sombrinha era tudo de bom! Quase no final da subida, notei que a senhora foi ficando para trás. Diminui meu passo até ela ficar do meu lado novamente. Ela agradeceu como se eu houvesse lhe dado um presente caro! "Eu tenho que continuar do seu lado, moço (adorei o "moço"!), se eu ficar pra trás, vou acabar desistindo", ela disse. Corrida de rua tem dessas coisas: não estamos uns contra os outros, e isto acaba gerando um certo espírito de companheirismo, de camaradagem.
Faltando pouco mais de 2km para o final, senti um princípio de câimbra na coxa direita (o que é bem raro. Nem me lembro da última vez que tive câimbras) e resolvi caminhar um pouco. Acenei para que a senhora seguisse o caminho dela e fui até o meio-fio para alongar a perna.
Após uns poucos momentos eu já me sentia pronto para encarar o finalzinho da prova. Voltei a correr mas, nos 500 metros finais, a tal câimbra voltou. Diminui drasticamente o ritmo e um corredor que passava por mim bateu no meu ombro e perguntou se eu estava bem. Ao ouvir que sim, ele falou uma frase "de filme" que vou me lembrar por um bom tempo: "então vem que a vitória é nossa! Não pára!"
Aquilo foi como uma injeção de ânimo direto na veia. Aumentei o ritmo e corri junto com o cara. Uns 100 metros à frente, ele fez a mesma coisa com outro sujeito que estava caminhando: bateu no ombro, perguntou se o cara estava bem e, ao ouvir que ele só estava cansado, gritou para que o cara nos seguisse!
E fomo os três, dois capengas e o "samurai". Quase no finalzinho ainda "arrebanhamos" uma mulher que também estava caminhando. Foi incrível!
Minha coxa já queria me quebrar na porrada de tanta dor quando, nos últimos metros, eu vi minha família! Todo mundo gritava: "vai Toninho! vai Toninho!". O El me deu a mão mas, ao invés de apenas tocar na mão dele, eu a segurei firme. Ele correu comigo e cruzamos juntos a linha de chegada.
Eu e os dois companheiros agradecemos efusivamente nosso amigo anônimo pela força. Ele nos cumprimentou a todos (inclusive o El) e não o vi mais.

Terminei os 21km com a coxa doendo. Acho que, sem perceber, eu devo ter jogado o peso do corpo para o lado direito pra compensar o incômodo causado pela bolha no pé esquerdo. Sei lá.
O certo é que demorei duas horas e 23 minutos para concluir o percurso. Um tempo lamentável. Mas tudo bem. Não fosse a dor na coxa, acho que ainda conseguiria correr mais uns 9 ou 10km. Moral da história: tenho que ficar esperto se quiser fazer a maratona do Rio.
E eu quero!
Encerro este texto convidando a colega de corridas, Eneida, a fazer - ela também - um post aqui no blog, contando como ela encarou os 5km. Fala ai, Beim!

Ah, não posso deixar de mencionar a marca histórica do amigo Carlos Henrique: o sujeito cravou 1hora 50min nos 21km!!! Aê Carlos!!!

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Nunca desista


Caro amigo leitor,
Como sempre, começo o texto com (mais um) pedido de desculpas pela demora em atualizar o blog. Uma fase dura na vida deste aspirante a corredor está por terminar nos próximos meses e o tempo anda muito, muito escasso mesmo.
O assunto sobre o qual quero escrever hoje é sobre uma reportagem que li, e já está em minha cabeça há mais de uma semana. Antes porém de ir direto ao ponto, deixe-me registrar aqui a quantas anda meu treinamento maratonístico:
Graças a Deus, o cardiologista não me proibiu de treinar. Entretanto, só depois do dia 6 de junho (dia do exame ergométrico) ficarei sabendo se posso ou não encarar os 42km do Rio.

Mas como ele me liberou para treinar, assim que obtive o alvará de soltura, fui direto calçar o tênis e seguir pra rua.
Desde então, tenho corrido 10km na academia às segundas, quartas e quintas. No domingo fiz um treino mais longo, percorrendo 20km em duas horas e cinco.
Não me sinto fisicamente cansado, mas tenho que fazer tanto malabarismo para conseguir tempo pra correr, que minha cabeça fica doendo.
O treino mais gostoso foi, obviamente, o de domingo. O dia não estava quente e tudo funcionou direitinho! A sorte das sortes aconteceu no km 14 quando o cara que vende água me viu de longe e já foi pegando o líquido precioso. Consegui concluir os 20km sem parar nem uma vez! Muito Obrigado, senhor da pick-up que vende água na AABB!
Como tudo estava perfeito naquele treino, consegui correr totalmente descontraído. Quando isto acontece, me desligo de tudo e fico pensando... Pensei na vida, família, trabalho, maratona. Pensei na Tia Rita, no Carlos, na Eneida, no meu pai...
É um privilégio ter amigos que inspiram a gente, pessoas que parecem ter entrado na nossa vida pra nos servir de exemplo.
Nas horas em que achamos que não vamos conseguir concluir nossa missão, ver amigos que superam suas próprias dificuldades nos serve de inspiração e nos motiva a ir mais longe, a correr um quilômetro mais, a dar um pouco mais de nós mesmos para superarmos também nossos próprios desafios.

Neste contexto, a reportagem do jornal O Globo que li, ilustra bem o quão importante é a força de vontade para alcançarmos nossa meta. O texto (http://oglobo.globo.com/ciencia/paraplegica-conclui-maratona-de-londres-em-16-dias-4910479) fala de Claire Lomas, que completou a maratona de Londres em 16 dias.
Se você tiver tempo, caro leitor, leia a reportagem. A história é emocionante, vale muito a pena ler.

Desta vez, encerro o post com um convite: dia 3 de junho acontecerá a terceira edição da meia maratona internacional de BH. A edição do ano passado foi uma das provas mais legais que já corri e minha expectativa é de que a versão 2012 seja igualmente legal.
E ai amigo leitor, anima? Bora correr comigo, sô!
É falow!

sábado, 12 de maio de 2012

Hipertensão



Amigo leitor,
Há 3 semanas não escrevo um texto novo aqui no blog. A razão para a interrupção foi a mesma que me fez parar com os treinamentos para a primeira, e cada vez mais difícil, maratona da  minha vida: a hipertensão.
Há dois anos fui diagnosticado com isto. Filho de pais hipertensos e levando a vida acelerada que levo, tenho sempre que me cuidar e visitar o cardiologista com freqüência. A próxima consulta estava marcada para junho, uns 30 dias antes da longa corrida.
Entretanto, num dia desses senti uma dor aguda na cabeça. A visão ficou turva, as pernas bambearam e o batimento do coração subiu.
Por coincidência, no dia seguinte havia exame periódico na empresa. O médico mediu minha pressão e disse que estava 14/9, o que é alto para mim, já que tomo medicamento para controlar a maldita.
Cheguei em casa à noite e medi novamente: 15/9 (o trânsito provoca um stress danado!). Na manhã seguinte marquei consulta com o cardiologista, mas só consegui vaga para hoje de manhã. Por precaução, decidi parar com os treinos. Ainda tenho um prédio pra entregar, uma consultoria pra cumprir, filhos pra criar... E todas estas coisas serão mais fáceis de fazer se eu não sofrer nenhum pipiripaco cerebral.
Graças a Deus, as pontadas na cabeça foram diminuindo até parar após poucos dias.
Mas parar de correr foi uma coisa muito, muito difícil de fazer. E foi por isto que parei também de escrever (sim, eu estou bem Yeda! Obrigado por se preocupar). Talvez este gesto  possa ser interpretado até como certa falta de respeito ao leitor amigo, mas ficar sem correr e ter que escrever sobre isto... Me desculpe amigo leitor, eu simplesmente não consegui fazer isto.
Também não entrei nos blogs sobre corrida que costumo visitar quando tenho tempo. Pensei que assim seria mais fácil controlar a vontade louca de dar uma corridinha.
E isto funcionou, ao menos até a última quinta-feira. Como minha consulta seria hoje, anteontem voltei a academia e corri 9km em uma hora. Foi mega-relaxante! A cabeça não doeu e, como corri devagar, as pernas também não.

Hoje finalmente fui ao médico (consulta bem cara, por sinal) e contei minha história. Ele pegou aquele fone de ouvido gelado dele e passou uns 15 minutos escutando ("auscultando", ele  diz) meu coração e pulmões. Me fez deitar, sentar, deitar de novo. Fez eletrocardiograma, mediu a pressão quando eu estava deitado, sentado, em pé, ajoelhado (tá bem, eu exagerei! ajoelhado não). Enquanto fazia os exames, o doutor foi falando sobre "as bases do tratamento da hipertensão", que incluem alimentação adequada, diminuição do refrigerante, horas suficientes de sono e o pior: o cara quer que eu fique, todo dia, 5 minutos parado "para aquietar a mente", ele disse.
"O cérebro não pode funcionar em alta rotação o tempo todo", explicou.
Falar é fácil, principalmente porque não é ele que tem trabalho pra entregar em julho.
A medicação foi trocada por uma outra, seis vezes (não estou exagerando agora) mais cara, e que não é parte daquele programa "farmácia popular". Resultado: correr a maratona não tem preço, mas controlar a pressão - tem preço sim!
Além disto tudo, terei que fazer aquele exame da esteira para saber se vou poder correr a maratona ou não.
A boa notícia é que o médico me deixou correr "sem exagerar" até o resultado do exame, e amanhã cedo - apesar de ser dia das mães - farei um treinozinho leve.
Não vou negar: este, definitivamente, não foi o texto mais feliz que produzi.
Mas vai dar tudo certo.         Ou não.

Torça por mim, leitor amigo.
Se você for religioso, reze por mim, peço-lhe de coração.

Darei notícias assim que puder.
Ilustrarei este post com uma foto que minha mulher tirou com o celular na quinta-feira, quando eu voltei da academia. Acho que nunca suei tanto!
É nóis!

domingo, 22 de abril de 2012

Correndo com grandes Amigos



Dizem que quando mais precisamos de férias é justamente quando acabamos de voltar delas.
Comprovei isto na volta de Piúma Inesquecível (leia no post anterior). As últimas semanas estão sendo cheias de atividade, mas o vovô aqui está conseguindo levar numa boa.
Tenho treinado forte (digo, "forte" para os meus padrões, claro), correndo na esteira da academia maldita três vezes na semana e fazendo treinos longos aos domingos.
No domingo de páscoa acordei mega-cedo e corri 22km sem muito sofrimento. Como era páscoa, fiquei com a família o dia todo, e não deu para contar aqui no blog como foi.
A segunda-feira seguinte marcou meu retorno ao trabalho (só o de BH e da Construtora, pq com a turma de SP eu não parei: trabalhei com eles lá de Piúma mesmo).
A semana passou devagar e, na sexta-feira, fui jantar com a esposa e o filhote num restaurante italiano chamado Villa Celimontana. Eu já conhecia os donos de lá, um casal de italianos com conversa agradável e sotaque fortíssimo.
A Cris (dona do lugar) sugeriu os pratos (o marido dela é o Chef do restaurante. O cara cozinha pra caramba!!!) e nós adoramos. Um detalhe que vale registrar é que, por volta das 22:30hs minha filha - que estava no cursinho - ligou para a Eneida perguntando onde estávamos e dizendo que ela e o namorado queriam sair com a gente.
Ao término da ligação a Eneida virou pra mim e disse: "que legal eles, que estão no auge da adolescência, quererem sair conosco, né Beim?". É mesmo.
A noite foi ótima.
No sábado saímos com o Ricardo, padrinho do Rafa. Ele está lendo o livro "Nascido para correr" (que eu vou comprar daqui a pouco, assim que a livraria abrir) e recomendou a leitura mil vezes. Combinamos de correr juntos no domingo.
Eu havia pensado em fazer 20km, mas achei que seria bom correr com o Ricardo (ele corre até 10km, mas faz isto de forma muito, muito rápida).
Aquele foi um dos treinos que ficarão gravados na memória. O Ricardo treina numa academia legal, com treinador, técnica de corrida e tudo o mais. Eu sempre achei isto frescurinha, mas mudei de opinião quando ele, durante a corrida, foi me dando dicas e contando como é o treinamento dele.
Corremos 10km em pouco menos de uma hora. Vez ou outra ele me orientava, ou me pedia para passar o próximo km concentrado em minha passada, ou no movimento dos braços. Como não estávamos ofegantes, conversamos ocasionalmente, sobre amenidades.
No final do treino, nos encontramos com Lucimar, a esposa dele e madrinha do Rafa. Tomamos água, conversamos um pouco, e então o Ricardo me convidou para caminhar com ele por 800m. Sem Tênis. (você leu direito: descalço, sem tênis! Sem meia! Sem nada! É quase como andar pelado)
E lá fomos nós: os "sem-tênis". Caminhamos por 1km enquanto conversávamos. Desta vez, falamos sobre assuntos sérios, sobre nossos filhos (as filhas dele têm a mesma idade que os meus), sobre nossos medos. Me senti leve.
Ricardo é um dos melhores amigos que tenho. Nossas vidas se cruzaram por acaso, e é incrível como nos damos bem, como pensamos igual, como temos praticamente as mesmas opiniões sobre as coisas.

Na semana passada, fiz três treinos de 10km na esteira. Hoje cedo fui correr com o Carlos.
O Carlos já mudou de nível, passando para a elite-semi-profissional-das-corridas-de-rua. O cara agora é um animal pra correr.
Na sexta, ele havia me mandado um e-mail chamando para fazermos um longão juntos. Eu respondi que adoraria ir, mas meu ritmo era lento demais. Como ele falou que não se importava, ficou o treino marcado. Ontem almoçamos todos lá em casa (a Eneida fez uma farofa que você nem acredita! Sucesso!) e combinamos como seria o treino de hoje.
Pontualmente às 7 da manhã ele passou lá em casa (é meu chapa! Eu fui treinar de motorista particular! 0800!). Para não ser deselegante (e também visando garantir a carona na volta), levei uma toalha para não contaminar o carro do Carlos.
Levamos duas horas e 43 minutos para percorrer 25km. No quinto km uma surpresa desagradável: fui desviar de uma dona que parou no meio do passeio e, ao pisar na grama, torci o pé. Ficou doendo, mas eu não parei. Notei que apareceu um galo (algo como a metade de um pequeno ovo de codorna) acima do tornozelo, e aquilo ficou incomodando. Eu tentei me concentrar ao máximo na corrida e, perto do décimo km eu já não sentia dor.
Para minha grata surpresa, cheguei muito, muito inteiro.
Carlos me deixou em casa, tomei um banho de meia hora e saí pra almoçar com a família.
Agora estou no Shopping Diamond (graças a Deus havia uma poltrona vaga aqui!). Ops, já passa das duas da tarde. A livraria já deve estar aberta. Deixe-me ir, que quero comprar o livro de que o Ricardo falou.
Boa semana pra você, amigo leitor!

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Iriri


Depois de ver o número de leitores aqui do blog cair vertiginosamente de dez para um (eu mesmo!), finalmente decidi fazer alguma coisa, tomar uma atitude para reverter a situação.
E é o que vou fazer agora!

O blog não é pra ser sobre corrida? Hein? Hein?
A ideia não era registrar e documentar meus treinos no caminho para a primeira (e talvez única) maratona? Hein? Hein?
Então é agora!
Chega de falar sobre viagem! Nada de falar sobre filmes - coisa de que eu nada entendo (não que eu entenda alguma coisa de corrida, né?)
Agora basta!
Este texto será sobre corrida.
Quer ver? (ah, você não quer, né? Pô, mas fica ai e continue lendo! Preciso de seu apoio, caro leitor)

Ontem, recebemos a visita do amigo atleta Carlos Henrique, que veio com seus pais passar o dia aqui conosco. "Seu" Henrique, o pai do Carlos, é pessoa boníssima, de conversa super agradável e com astral incrível!
Ficamos na praia a manhã toda. Nadamos, comemos camarão (delicioso!) e conversamos bastante. Depois, viemos aqui pra casa e Dona Carmem (a mãe do meu amigo atleta) ajudou minha mãe a preparar o almoço.
Saí com o Carlos pra comprar refrigerantes e ele me perguntou como estavam as férias e se o povo do serviço estava me dando folga.
Êta boca essa do Carlos! Foi só eu responder que ninguém havia me incomodado e o telefone tocou!
Putz!
Era meu patrão dizendo que havia algo errado com o módulo de compras do ERP.

Mas eu disse que ia falar sobre corrida, então vamos lá:
O Carlos confirmou que a grande aventura de corrermos juntos até Marataízes não iria rolar porque o acostamento da estrada havia sido totalmente tomado pelo mato.
Sendo assim, fui dormir pensando em correr hoje pela orla aqui de Piúma mesmo, dando duas ou três voltas na praia até fazer um "longão". Mas ficar passando pelos mesmos lugares seria chato pra caramba (não sei como a Yeda consegue treinar numa pista de atletismo. Ela é maluca. É sim.).
Pouco antes de dormir tive o insight! Nada estaria perdido. Vovô aqui iria protagonizar uma aventura solitária! Eu iria correr de Piúma inesquecível até Irirí, um pequeno vilarejo distante uns 9km daqui. Apesar do adiantado da hora, liguei pra Eneida e contei do novo plano. Eu até esperava ouvir um "pito", mas ela apoiou a ideia. Já passava das 11 da noite e, visando manter a amizade, achei melhor não ligar para o Carlos (eu adoraria que ele fosse comigo).
Levantei bem cedo (aliás, foi a Eneida quem me acordou. Eu havia falado pra ela que sairia as 6:30 da manhã, então ela ligou pra desejar boa sorte), mas entre tomar café (minha mãe faz café todos os dias aqui. A casa toda fica com o aroma do café dela. Delícia!), passar bloqueador, conversar com meu pai, trocar de roupa e calcar o tênis acabei levando muito tempo, e só fui sair as 8 horas.
O sol estava forte e o percurso é muito difícil. Entre Piúma e Iriri há um morro enorme e, como você sabe, eu não sou exatamente famoso pela facilidade com que consigo correr nas subidas.
A parte boa de correr em Piumex é que eu já saio de casa correndo! É muito legal.
Liguei o relógio e sai trotando devagarinho. No segundo quilômetro o suor começou a brotar da testa. Segui firme, olhando sempre para o mar. Ao contrário da tarde, pela manhã não há vento na praia, e a sensação de calor é maior.
Depois de três quilômetros saí da orla e corri pelo centro da pequena Piúma. A essa altura, por incrível que pareça, eu já me sentia muito cansado. Corria devagar, mas a sensação de cansaço era grande.
Atravessei a ponte que limita a cidade (limitava, pois hoje a cidade cresceu para além da ponte e estabelecimentos comerciais nasceram à beira da estrada) e rumei para o "grande morro".
Aqui em Piúma não estou ouvindo música quando corro. E não está me fazendo falta. Mas, não sei se é por isto ou não, me sinto meio fraco, meio mole. Tenho que correr devagar e, mesmo assim, fico me sentindo cansado.
Mas isto é só no corpo. A cabeça corre solta e leve. À certa altura, olhei pra minha camisa e percebi que estava encharcada de suor. Fiquei desanimado (não tinha corrido nem 5km! O que estaria havendo comigo?), mas segui em frente.
Alguns metros à frente, avistei uma oficina mecânica onde um cara estava lavando a calçada. Pedi a ele para beber água e vi que ele ficou feliz em me ajudar. Bebi um pouco e joguei água sobre a cabeça e no rosto. Foi revigorante!
Caro leitor, se você não corre, deveria experimentar um dia! É incrível como conseguimos ficar tão felizes apenas ao beber água de torneira e tomar banho de mangueira bem no meio de uma estrada que liga o nada ao coisa nenhuma!
Mas acredite em mim: é das melhores coisas da vida de um corredor (ou "aspira"!)!
O que foi??? ficou com nojinho, senhor zero-dois??? Experimenta! Sei que, escrevendo assim, não parece grande coisa. Mas garanto que você vai gostar.

O certo é que a água foi revigorante! A parada não durou nem um minuto. Agradeci ao senhor da oficina e segui meu caminho rumo ao "grande morro".
E então ele chegou.
O primeiro morro é algo que a gente não esquece facilmente (deve ser como o primeiro sutiã para as mulheres. Eu acho). Como ato instintivo, meu corpo se inclinou pra frente (nem sei se é assim que o manual do corredor manda fazer na subida), tentei me concentrar olhando fixo para um ponto lá em cima e mandei ver!
Eu nem senti (mentira! Senti sim! Senti muuuuito!) e quando dei por mim, já estava virando na curva em cima do morro. Saí da estrada e peguei uma estradinha secundária e sinuosa. Foi uma descida suave de menos de dois km e finalmente cheguei à praia de Iriri.
Iriri não é nada inesquecível. É uma praia pequena e deserta, apesar de muito bonita.
Quase todos os quiosques estavam fechados e eu só vi uma pessoa na praia inteira. Continuei correndo até chegar ao quiosque que estava no meio da orla. Quando finalmente cheguei lá, desabei no banco de cimento e nem sei quanto tempo fiquei na mesma posição. Havia sombra e um vento gostoso soprava no meu rosto banhado de suor.
Depois que o corpo esfriou, notei com pesar que meus joelhos (especialmente o direito, que foi atingido no acidente do carnaval) estavam doendo muito.
Tirei o tênis, a cinta do relógio, a blusa e o short (fique calmo! Eu estava de sunga por baixo. Mané!) e fui para a água. E ai descobri outra diferença entre Iriri e Piúma inesquecível: o mar de Iriri é frio. É MUITO frio!
De dentro da água pude ver que havia um único quiosque aberto no final da praia. Saí do mar, peguei as coisas e fui caminhando na areia branca até lá.
Havia apenas um homem bebendo cerveja (as 9 e meia da manhã!) e o dono do quiosque. Eu pedi um côco e uma coca-zero e me sentei pra descansar e apreciar a vista.
Foi "o descanso do guerreiro" (meus filhos vão morrer de rir se lerem isto! Eles sabem a que me refiro!). Bebi a água, pedi ao senhor do bar que abrisse o côco e comi tudinho!
Saboreei a coca-zero (a melhor entre todas as grandes bebidas do mundo) e fiquei curtindo enquanto um senhor com dois netinhos (eles o chamavam de vô) chegou à praia.
Depois de algum tempo, um casal passou caminhando por mim de mãos dadas. Percebi que o vilarejo estava "acordando", e que era hora de voltar pra casa.
O caminho de volta foi mais tranquilo (também pudera! Descer é fácil!), ao menos até a metade.
Quando cheguei no final da estrada, perto da ponte, voltei a suar bastante. O sol estava muito forte e os joelhos continuavam doendo. Felizmente vi uma moça lavando um carro. Eu nem precisei pedir, ela viu meu sofrimento e me estendeu a mangueira d´água. Uma vez mais, cumpri o velho ritual: bebi alguns goles, tomei o tradicional banho, agradeci e voltei a correr.
Assim que cheguei à orla de Piúma, o cansaço voltou com força. Senti que a bolha que havia se formado no meu dedo (descobri a danada quando tirei o tênis lá em Iriri) estava incomodando. Os joelhos também.
Mas o vovô aqui não desistira facilmente. Não sem lutar bastante. E sabe o que manteve minha motivação? Foi você mesmo. É, você mesmo, caro leitor!
Pensei no blog, pensei na Tia Rita (madrinha que eu mesmo escolhi para minha aventura maratônica!) e vi que era importante pra mim concluir aquele percurso (acredite: até hoje eu nunca interrompi um treino no meio. Já caminhei algumas vezes, já parei pra descansar. Mas sempre voltava a correr - ou me arrastar - até chegar no final).
Firmei o pensamento e passei a olhar para as pessoas na praia. Diminui o ritmo, mas mantive o passo firme. Perto do final, a dor nos joelhos diminuiu misteriosamente, mas o cansaço ainda me acompanhava de perto.

E eu consegui! Cheguei em casa - correndo! Totalmente molhado de suor, mas feliz da vida! Eram 10 e vinte da manhã.
Tomei uma ducha longa e fria do lado de fora da casa, e depois me deitei na mureta da varanda. Fiquei lá um tempão, deitado e conversando com minha mãe, tentando explicar quão gostosa havia sido a "loucura" que acabara de fazer.
Só depois de muito tempo é que fui olhar no garmim qual a distância eu havia percorrido. Foram míseros 15km (nem perto dos 42km da maratona! Eu tô ferrado!), mas não importa. Eu consegui ir e voltar! Corri na praia, corri na estrada, corri no morro que nunca acaba (ô sufoco, o tal do morro!). E vivi para lhe contar a história.

Refeito, descansado e devidamente hidratado com mais de meio litro de coca-zero (água é para os fracos!), chamei meus pais e fomos para a praia, onde comemoramos o treino comendo um "Peroá", peixe muito comum no Espírito Santo. Delicioso!

Agora vou parar por aqui e curtir a rede em que estou deitado. Afinal, eu estou de FÉRIAS!!! UHU!!!
Olha a pose do Mané depois do treino. Nem parece que o joelho vai desabar a qq momento!

terça-feira, 3 de abril de 2012

Luz da minha vida


Iza,

Você não sabe o quanto preciso de você (talvez nunca venha a saber).
Rezo para que Deus faça brilhar, cada vez mais, a sua Luz.

Parabéns, Filha.
Beijo do seu velho e carrancudo,

Papai Toninho.

Agora dorme com Deus, filha.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Antes de partir


Este é o primeiro post que faço ANTES do treino do dia, então não sei ao certo o que escreverei aqui, mas acho que será diferente do que tenho feito.
O texto é para Eneida.
Oh, claro, estou escrevendo num blog - e blogs são para quem os quiser ler. Mas o que quero dizer é que estou escrevendo pensando nela.
Obviamente seria mais fácil (e bem mais privado também) mandar um e-mail. Mas não conseguiria ...
Deixa pra lá.

Fiquei emotivo porque acabei de assistir The Bucket List ("Antes de Partir", título em português). Eu sempre choro no fim dos filmes (assisti Titanic quatro vezes. Chorei nas quatro) e desta vez não está sendo diferente.
Daqui a pouco sairei para o treino de hoje: 10km no sol de 17 horas. Me deseje sorte.
Entretanto, como ainda não corri, não posso dizer como foi (lógico, né!). Então, como não posso hoje falar sobre corrida, falarei sobre o filme.
Mesmo não sendo este um blog sobre cinema - e mesmo não sendo eu a pessoa adequada para comentar sobre filmes, tomarei a liberdade de indicar um: se você não assistiu, pegue numa locadora (ainda existe isto?), baixe da Internet... sei lá. Dê seu jeito, mas assista "Antes de Partir". Vale muito a pena.
E quer outra dica?     Tá bem, você não quer, né? Mas vou lhe dar assim mesmo: se conseguir, tente ver com as legendas em Inglês (ou sem legendas, se puder). É que a tradução em alguns pontos muda ou pouquinho o sentido das falas (ao menos na versão que eu peguei).
Se você for humano (como penso que é - pois, de outra forma, não conseguiria ler este texto) irá chorar no final. Mas isto faz parte. Vá lá! Pegue o filme e assista. Assista HOJE.
Anda logo!

Não contarei a história para não ser spoiler. Mas transcrevo abaixo a sinopse a que tive acesso:
"Carter Chambers (Morgan Freeman) é um homem casado, que há 46 anos trabalha como mecânico. Submetido a um tratamento experimental para combater o câncer, ele se sente mal no trabalho e com isso é internado em um hospital. Logo passa a ter como companheiro de quarto Edward Cole (Jack Nicholson), um rico empresário que é dono do próprio hospital. Edward deseja ter um quarto só para si mas, como sempre pregou que em seus hospitais todo quarto precisa ter dois leitos para que seja viável financeiramente, não pode ter seu desejo atendido pois isto afetaria a imagem de seus negócios. Edward também está com câncer e, após ser operado, descobre que tem poucos meses de vida. O mesmo acontece com Carter, que decide escrever a "lista da bota", algo que seu professor de filosofia na faculdade passou como trabalho muitas décadas atrás. A lista consiste em desejos que Carter deseja realizar antes de morrer. Ao tomar conhecimento dela Edward propõe que eles a realizem, o que faz com que ambos viagem pelo mundo para aproveitar seus últimos meses de vida."

O filme não tem nada de corrida nem de maratona. Mas nos faz pensar sobre o que é realmente importante. Nossa família (é ai que entra a Eneida), esposa, filhos, amigos...

Dos meus dez leitores, oito me conhecem pessoalmente e sabem que meu gosto é bastante... duvidoso. Se você pertence à minoria que não teve o (des)prazer de conversar comigo ao vivo, devo avisá-lo que eu consigo gostar igualmente do Rappa e da Adele. Não entendeu? Veja: eu gosto até de uma música (tudo bem, é UMA só!) da banda Calypso!
Então esteja avisado de que existe uma chance de eu estar exagerando ao falar tão bem do filme. Talvez a crítica não ache o enredo assim tão legal quando eu o descrevi (não vi o que a crítica falou do filme. Ele foi feito em 2007, eu acho).
Mas eu insisto muito para que você veja o filme. Não será perda de tempo, disso tenho certeza.

Agora são 22 horas. Não consegui publicar o texto antes por falta de conexão com a Internet. Isto não é de todo ruim, porque posso lhe dizer que corri 6,5km hoje à noite. O plano era fazer 10km, mas como já estava escuro quando sai, só pude percorrer o caminho que estava iluminado.
Cara, a lua estava fantástica! Sabe aquela cena dos filmes em que o brilho prateado bate no mar e deixa um brilho?  Pois é, não estava bem assim, mas estava bonito pra caramba!
Depois da corrida, voltei pra casa, tomei um banho rápido e fui para uma lan-house (aqui elas existem aos montes!) para fazer a reunião com São Paulo.
Quando voltei, achei o lanchinho da mamãe pronto, só me esperando!!! Ô vida mais ou menos!!!
Amanhã irei me encontrar com o Carlos, parceirão na empreitada da Maratona do Rio. Por telefone ele me deu uma notícia não muito boa: não poderemos correr de Piúma a Marataízes (uns 22 ou 25km) como havíamos planejado porque ele descobriu que a estrada é estreita demais.
O Carlos também viajou com os pais dele. Eles estão em uma praia aqui perto e amanhã nos encontraremos todos aqui em Piúma inesquecível.
Depois eu lhe conto como foi.
Vou me despedindo aqui porque ainda vou assistir outro filme antes de dormir.
Boa Noite pra você!