quarta-feira, 4 de abril de 2012

Iriri


Depois de ver o número de leitores aqui do blog cair vertiginosamente de dez para um (eu mesmo!), finalmente decidi fazer alguma coisa, tomar uma atitude para reverter a situação.
E é o que vou fazer agora!

O blog não é pra ser sobre corrida? Hein? Hein?
A ideia não era registrar e documentar meus treinos no caminho para a primeira (e talvez única) maratona? Hein? Hein?
Então é agora!
Chega de falar sobre viagem! Nada de falar sobre filmes - coisa de que eu nada entendo (não que eu entenda alguma coisa de corrida, né?)
Agora basta!
Este texto será sobre corrida.
Quer ver? (ah, você não quer, né? Pô, mas fica ai e continue lendo! Preciso de seu apoio, caro leitor)

Ontem, recebemos a visita do amigo atleta Carlos Henrique, que veio com seus pais passar o dia aqui conosco. "Seu" Henrique, o pai do Carlos, é pessoa boníssima, de conversa super agradável e com astral incrível!
Ficamos na praia a manhã toda. Nadamos, comemos camarão (delicioso!) e conversamos bastante. Depois, viemos aqui pra casa e Dona Carmem (a mãe do meu amigo atleta) ajudou minha mãe a preparar o almoço.
Saí com o Carlos pra comprar refrigerantes e ele me perguntou como estavam as férias e se o povo do serviço estava me dando folga.
Êta boca essa do Carlos! Foi só eu responder que ninguém havia me incomodado e o telefone tocou!
Putz!
Era meu patrão dizendo que havia algo errado com o módulo de compras do ERP.

Mas eu disse que ia falar sobre corrida, então vamos lá:
O Carlos confirmou que a grande aventura de corrermos juntos até Marataízes não iria rolar porque o acostamento da estrada havia sido totalmente tomado pelo mato.
Sendo assim, fui dormir pensando em correr hoje pela orla aqui de Piúma mesmo, dando duas ou três voltas na praia até fazer um "longão". Mas ficar passando pelos mesmos lugares seria chato pra caramba (não sei como a Yeda consegue treinar numa pista de atletismo. Ela é maluca. É sim.).
Pouco antes de dormir tive o insight! Nada estaria perdido. Vovô aqui iria protagonizar uma aventura solitária! Eu iria correr de Piúma inesquecível até Irirí, um pequeno vilarejo distante uns 9km daqui. Apesar do adiantado da hora, liguei pra Eneida e contei do novo plano. Eu até esperava ouvir um "pito", mas ela apoiou a ideia. Já passava das 11 da noite e, visando manter a amizade, achei melhor não ligar para o Carlos (eu adoraria que ele fosse comigo).
Levantei bem cedo (aliás, foi a Eneida quem me acordou. Eu havia falado pra ela que sairia as 6:30 da manhã, então ela ligou pra desejar boa sorte), mas entre tomar café (minha mãe faz café todos os dias aqui. A casa toda fica com o aroma do café dela. Delícia!), passar bloqueador, conversar com meu pai, trocar de roupa e calcar o tênis acabei levando muito tempo, e só fui sair as 8 horas.
O sol estava forte e o percurso é muito difícil. Entre Piúma e Iriri há um morro enorme e, como você sabe, eu não sou exatamente famoso pela facilidade com que consigo correr nas subidas.
A parte boa de correr em Piumex é que eu já saio de casa correndo! É muito legal.
Liguei o relógio e sai trotando devagarinho. No segundo quilômetro o suor começou a brotar da testa. Segui firme, olhando sempre para o mar. Ao contrário da tarde, pela manhã não há vento na praia, e a sensação de calor é maior.
Depois de três quilômetros saí da orla e corri pelo centro da pequena Piúma. A essa altura, por incrível que pareça, eu já me sentia muito cansado. Corria devagar, mas a sensação de cansaço era grande.
Atravessei a ponte que limita a cidade (limitava, pois hoje a cidade cresceu para além da ponte e estabelecimentos comerciais nasceram à beira da estrada) e rumei para o "grande morro".
Aqui em Piúma não estou ouvindo música quando corro. E não está me fazendo falta. Mas, não sei se é por isto ou não, me sinto meio fraco, meio mole. Tenho que correr devagar e, mesmo assim, fico me sentindo cansado.
Mas isto é só no corpo. A cabeça corre solta e leve. À certa altura, olhei pra minha camisa e percebi que estava encharcada de suor. Fiquei desanimado (não tinha corrido nem 5km! O que estaria havendo comigo?), mas segui em frente.
Alguns metros à frente, avistei uma oficina mecânica onde um cara estava lavando a calçada. Pedi a ele para beber água e vi que ele ficou feliz em me ajudar. Bebi um pouco e joguei água sobre a cabeça e no rosto. Foi revigorante!
Caro leitor, se você não corre, deveria experimentar um dia! É incrível como conseguimos ficar tão felizes apenas ao beber água de torneira e tomar banho de mangueira bem no meio de uma estrada que liga o nada ao coisa nenhuma!
Mas acredite em mim: é das melhores coisas da vida de um corredor (ou "aspira"!)!
O que foi??? ficou com nojinho, senhor zero-dois??? Experimenta! Sei que, escrevendo assim, não parece grande coisa. Mas garanto que você vai gostar.

O certo é que a água foi revigorante! A parada não durou nem um minuto. Agradeci ao senhor da oficina e segui meu caminho rumo ao "grande morro".
E então ele chegou.
O primeiro morro é algo que a gente não esquece facilmente (deve ser como o primeiro sutiã para as mulheres. Eu acho). Como ato instintivo, meu corpo se inclinou pra frente (nem sei se é assim que o manual do corredor manda fazer na subida), tentei me concentrar olhando fixo para um ponto lá em cima e mandei ver!
Eu nem senti (mentira! Senti sim! Senti muuuuito!) e quando dei por mim, já estava virando na curva em cima do morro. Saí da estrada e peguei uma estradinha secundária e sinuosa. Foi uma descida suave de menos de dois km e finalmente cheguei à praia de Iriri.
Iriri não é nada inesquecível. É uma praia pequena e deserta, apesar de muito bonita.
Quase todos os quiosques estavam fechados e eu só vi uma pessoa na praia inteira. Continuei correndo até chegar ao quiosque que estava no meio da orla. Quando finalmente cheguei lá, desabei no banco de cimento e nem sei quanto tempo fiquei na mesma posição. Havia sombra e um vento gostoso soprava no meu rosto banhado de suor.
Depois que o corpo esfriou, notei com pesar que meus joelhos (especialmente o direito, que foi atingido no acidente do carnaval) estavam doendo muito.
Tirei o tênis, a cinta do relógio, a blusa e o short (fique calmo! Eu estava de sunga por baixo. Mané!) e fui para a água. E ai descobri outra diferença entre Iriri e Piúma inesquecível: o mar de Iriri é frio. É MUITO frio!
De dentro da água pude ver que havia um único quiosque aberto no final da praia. Saí do mar, peguei as coisas e fui caminhando na areia branca até lá.
Havia apenas um homem bebendo cerveja (as 9 e meia da manhã!) e o dono do quiosque. Eu pedi um côco e uma coca-zero e me sentei pra descansar e apreciar a vista.
Foi "o descanso do guerreiro" (meus filhos vão morrer de rir se lerem isto! Eles sabem a que me refiro!). Bebi a água, pedi ao senhor do bar que abrisse o côco e comi tudinho!
Saboreei a coca-zero (a melhor entre todas as grandes bebidas do mundo) e fiquei curtindo enquanto um senhor com dois netinhos (eles o chamavam de vô) chegou à praia.
Depois de algum tempo, um casal passou caminhando por mim de mãos dadas. Percebi que o vilarejo estava "acordando", e que era hora de voltar pra casa.
O caminho de volta foi mais tranquilo (também pudera! Descer é fácil!), ao menos até a metade.
Quando cheguei no final da estrada, perto da ponte, voltei a suar bastante. O sol estava muito forte e os joelhos continuavam doendo. Felizmente vi uma moça lavando um carro. Eu nem precisei pedir, ela viu meu sofrimento e me estendeu a mangueira d´água. Uma vez mais, cumpri o velho ritual: bebi alguns goles, tomei o tradicional banho, agradeci e voltei a correr.
Assim que cheguei à orla de Piúma, o cansaço voltou com força. Senti que a bolha que havia se formado no meu dedo (descobri a danada quando tirei o tênis lá em Iriri) estava incomodando. Os joelhos também.
Mas o vovô aqui não desistira facilmente. Não sem lutar bastante. E sabe o que manteve minha motivação? Foi você mesmo. É, você mesmo, caro leitor!
Pensei no blog, pensei na Tia Rita (madrinha que eu mesmo escolhi para minha aventura maratônica!) e vi que era importante pra mim concluir aquele percurso (acredite: até hoje eu nunca interrompi um treino no meio. Já caminhei algumas vezes, já parei pra descansar. Mas sempre voltava a correr - ou me arrastar - até chegar no final).
Firmei o pensamento e passei a olhar para as pessoas na praia. Diminui o ritmo, mas mantive o passo firme. Perto do final, a dor nos joelhos diminuiu misteriosamente, mas o cansaço ainda me acompanhava de perto.

E eu consegui! Cheguei em casa - correndo! Totalmente molhado de suor, mas feliz da vida! Eram 10 e vinte da manhã.
Tomei uma ducha longa e fria do lado de fora da casa, e depois me deitei na mureta da varanda. Fiquei lá um tempão, deitado e conversando com minha mãe, tentando explicar quão gostosa havia sido a "loucura" que acabara de fazer.
Só depois de muito tempo é que fui olhar no garmim qual a distância eu havia percorrido. Foram míseros 15km (nem perto dos 42km da maratona! Eu tô ferrado!), mas não importa. Eu consegui ir e voltar! Corri na praia, corri na estrada, corri no morro que nunca acaba (ô sufoco, o tal do morro!). E vivi para lhe contar a história.

Refeito, descansado e devidamente hidratado com mais de meio litro de coca-zero (água é para os fracos!), chamei meus pais e fomos para a praia, onde comemoramos o treino comendo um "Peroá", peixe muito comum no Espírito Santo. Delicioso!

Agora vou parar por aqui e curtir a rede em que estou deitado. Afinal, eu estou de FÉRIAS!!! UHU!!!
Olha a pose do Mané depois do treino. Nem parece que o joelho vai desabar a qq momento!

6 comentários:

BALEIAS disse...

Caro Antônio Horta. Primeiro, parabéns pelas férias. É muito bom. E agora parabéns pelo treino aguerrido dentro das férias. Eu só penso em férias com uma corrida no meio, o que me dispensa de treinos. Por fim, o mais recente parabéns pela decisão de só dizer de corridas no blog. É o que a turma de corridas prefere, é o segredo do sucesso. Grande abraço e muito obrigado pelo carinho conosco, com a Equipe Baleias, com Gilberto Lobato. Estamos em BH, temos que nos encontrar. Miguel Delgado.

Eneida Freire disse...

Parabéns pela empreitada!!!
Beijo, beinS2!

Anônimo disse...

Parabens Toninho,pela empreitada realizada, só vç p/ realizar td c/ tamanha dedicação te amamos viu? seu pai e sua mãe.

Marcelo Pizarro disse...

Putz Toninho, voce tava tentando suicidio? correr sozinho? voce nem teve tempo de fazer o testamento deixando o notebook para mim rs! Brincadeira! Parabens pela iniciativa! que bom que o joelho parou de doer, pois ja estava preocupado na hora que voce falou que doeu. Sucessos, FELIZ PASCOA!!!
Inté segunda!!!

Carlos Henrique Diniz Ferreira disse...

Parabéns Toninho!
Aquele sol tava de matar mesmo.
As dificuldades nos mostram que precisamos melhorar e são são elas que nos motivam a alcançar nossos objetivos.
Acredite, esse treino vai te fazer chegar no final da maratona!

railer disse...

treinar sempre é bom!
força aí!