terça-feira, 25 de março de 2014

#Partiu Férias!


Estou off-line enquanto redijo este texto, então me ponho a pensar... Quanto tempo faz desde a última vez que escrevi algo no blog? Mais de um ano? Talvez...
Se por um lado sinto-me realizado ao lembrar do último post onde narrei minhas peripécias na mais longa corrida que já participei (os 42 km da Maratona do RJ), por outro lado sinto que perdi muito ao abandonar o blog, este meu diário pessoal. As cenas corriqueiras que vivi com a família, alguns dos momentos de êxtase ao correr sozinho pela orla da Pampulha, as trapalhadas com os fones de ouvido (sim, ainda tenho problemas com isso!)... Tudo isto poderia ter ficado registrado no PrimeiroKM, mas eu - em minha infinita preguiça - fui deixando a vida passar...
Agora estou confortavelmente deitado na rede da casa da praia (Piúma Inesquecível, obviamente!) lembrando do breve e inesperado encontro que tive no domingo com meus tios Gilberto e Rita (a Tia Rita, minha eterna madrinha maratônica) no meu restaurante preferido, "a verdadeira comida chinesa". Foi um momento breve. Breve mas descontraído e gostoso. Se eu não colocar isto AGORA no papel (digo, no blog) será um momento que se perderá nas minhas lembranças daqui a um ano ou dois. 
Mas por que lembrar disto daqui a dois anos?
Porque eu QUERO me lembrar! Foi por isto que criei o blog-diário, e é justamente por isto que o estou reativando agora (isto é, assim que eu achar uma lanhouse!).

Já que este é, ou deveria ser, um blog sobre corrida de rua, começo dizendo que já estou inscrito na meia-maratona de BH - edição 2014, que ocorrerá dia 11 de maio. Esta será a prova mais longa que participarei desde a maratona (já fiz outras provas de 21 km, mas não mais longe que isto) e é também uma das corridas que mais gosto!

Estou treinando (ou tentando fazê-lo) na praia durante esta semana. O pai do meu amigo (que também era meu amigo) morreu há 15 dias após lutar por mais de um ano contra um câncer. Passei as últimas semanas pensativo... E resolvi tirar uns dias de folga e fugir pra cá com meu pai e minha mãe.
Folga da mãe!

Viemos na segunda-feira, no batmóvel da Luíza. A viagem foi muito gostosa (eu ADORO dirigir na estrada. Adoro!), mas foi puxada demais para o meu pai. Ele tem Alzhimer, e sua mente ficou confusa desde que chegamos. Ele está bem, se alimenta direito, não sente dor alguma, mas às vezes não se lembra onde estamos. Ele olha para a varanda da casa, seu olhar se demora observando as redes... então ele comenta: "Esta é a casa de Rio Casca!" (cidade natal dele, onde ele nunca mais voltou desde que eu tinha 10 anos e meus avós morreram). Minha mãe explica com paciência que esta é a casa da praia, que ele comprou pra ela há muitos e muitos anos. Dá um nó na minha garganta e, coincidência das coincidências coincidentes - entra uma areinha no meu olho nessa hora. Dói um pouco.

Acho que dói porque eu podia ter aproveitado mais dele enquanto tive chance. Passei tanto tempo na vida tentando mostrar pra ele que eu fiz direito o que ele ensinou a fazer: trabalhar, escolher uma mulher bonita, casar-me com ela, trabalhar mais, criar filhos e vencer na vida. Passei tanto tempo fazendo isto que não vi quando ele começou a envelhecer. Deixei passar essa parte, e agora eu tô vendo que essa corrida não vai voltar mais pra mim...

Lanchando na estrada


Mas pera ai! há também a parte boa, sô! Aliás, toda a viagem tem sido "a parte boa". Começou na própria estrada: eu havia preparado com muito cuidado uma seleção de músicas que eu achava que eles iriam gostar. Deu tão certo que eu vi meu pai pelo retrovisor (ele e minha mãe foramm no banco de trás) batucando com as mãos o tempo todo enquanto minha mãe cantava os sambinhas do jeito dela. Paramos pra lanchar uma ou duas vezes, e então decidimos fazer outra parada para almoçar. Era uma churrascaria na beira da estrada, mas o balcão de saladas estava bonito (parecia tudo fresquinho) e decidimos ficar lá. Meu pai comeu bem, riu um pouco, resmungou um pouco. Uma hora e vinte depois, pegamos a estrada novamente.
o Batmóvel da Iza

Enquanto eu dirigia, minha mente viajou na maionese até um tempo em que ele era quem dirigia o carro nessa mesma estrada. Tínhamos que lanchar rápido (lembro particularmente de uma vez em que minha namorada foi conosco... Ela ficou puta da vida porque sempre tinha que largar o salgado na metade porque meu pai estava impaciente para prosseguir a viagem. Era constrangedor naquele tempo).
Em minha mente, eu fiquei bravo com meu pai no retrovisor. Por que é que tudo tinha que ser às pressas? A viagem na maionese prosseguiu: o que será que EU herdei desse comportamento? Sou bravo demais com as crianças... Eu quero melhorar isto. Aliás, eu TENHO que melhorar isto enquanto ainda posso...
As horas se passam, fica todo mundo quietinho dentro do carro (será que eles ouviram meu pensamento? Ou será que minha cara de mau me denunciou?). Em determinado momento olho pelo retrovisor e vejo os dois dormindo. Pego o iPhone e consigo registrar a cena para a posteridade.
Tirando um cochilo


Minha mãe dorme um sono gostoso no ombro dele. Do jeito dele, ele conseguiu. Sempre foi bravo, turrão, duro. Mas tinha alguma coisa dentro dele que fez com que ela o acompanhasse, que aprendesse a gostar dele, a confiar nele, a cuidar dele. Meu pai sempre foi um cara honesto e trabalhador. Nunca presenciei um momento sequer em que ele se aproveitasse de alguma situação para 'levar vantagem'. "Água dá, água toma", dizia - referindo-se a uma enchente que levou a casa de um político corrupto em sua cidade natal quando ele era criança.

Aqui em Piúma a vida tem sido boa. Sinto verdadeiro e sincero prazer em fazer pequenas tarefas manuais e, com elas, ficar perto dele.
Eu dou banho, levo ao banheiro, troco a roupa, limpo. Também arrumo a cozinha (sou PERFEITO nisto!) e desenvolvi sozinho (após uma experiência inicial desastrosa) uma técnica que me permite fazer suco de laranja com mamão para ele (é bom para o intestino). Tenho feito todos os dias e ele parece gostar muito.
Hoje, além de dar o banho, eu fiz a barba dele. Fui uma coisa tão intensa, tão marcante, que até agora eu fico engasgado de pensar. Exceto por uma única vez há alguns anos, quando ele esteve internado no hospital, eu nunca fiz a barba dele. É um pouco como se eu fosse o pai agora.
Dói.
Mas tem a parte boa também: pela primeira vez na vida (antes, no hospital eu usei barbeador elétrico) eu pude passar a mão pelo rosto dele. Foi gostoso. Foi gostoso pra caramba!
Depois do lanche, fomos à praia. Minha mãe nadou no mar e caminhou enquanto eu e ele ficamos lendo e tomando água de côco, ele me repetindo sempre a mesma reportagem do jornal.
Consegui ler bastante e preparar boa parte do meu trabalho do próximo sábado.
Por volta do meio-dia voltamos pra casa e eis-me aqui, deitado na rede (morra de inveja!!!) olhando as pessoas passarem na rua.
Eu lavei a roupa!

Hoje eu acordei às 4:40 (depois de ter ido dormir exatamente à meia-noite, por ter ficado conversando na varanda com minha mãe. Mas essa história eu escrevo depois. Não há como esquecer) e fui para a beira da praia esperar o sol nascer.
O espetáculo começou às 5:30h, e foi um show incrível! Tudo muito bem ensaiado: as luzes batendo nas nuvens, a ilha estava no lugar certinho para que o astro principal pudesse surgir atrás dela! Quando ele apareceu na tela, foi raio de luz pra tudo quanto é lado! As fachadas dos prédios foram iluminadas, a luz intensa refletia na água do mar deixando um brilho indescritível! Um show só pra mim e para os poucos pescadores e turistas que acompanhavam a cena. Uma coisa absolutamente corriqueira, um show que acontece todo dia. Totalmente grátis e sem sorteio! E que quase ninguém vê! Muitos até olham, mas pouca gente enxerga isto com os tais "olhos de ver". Hoje eu vi! Sorte a minha!










Somente hoje estou conseguindo postar o texto. Chegamos bem de viagem e já estou no lerê. Esta semana terei pouco tempo pra correr, mas pretendo dar a volta na Pampulha (18 km) no domingo. Depois eu conto como foi!



Esta vista é incrível!

5 comentários:

Tia Rita disse...

Ebaaaaa! Fiquei tão feliz de vc voltar a escrever, que estou aki postando antes de ler! Kkkkk
Depois farei comentário !
Bjo
Tia Rita

Tia Rita disse...

Toninho.... Toninho .... Toninhoooooo!!!
Somente agora pude ler e com muita calma seu relato!!
E como demorei pra concretizar minha leitura!!!
As lágrimas.. O pranto... O soluço... Toda hora me faziam parar !
Que clareza de expressão! Que pureza de alma!
Que facilidade de colocar no papel seus mais íntimos sentimentos!! Que coisa mais lindaaaaa!
Sabe o que eu acho?
Vc deveria catalogar tudo isso e escrever um livro!!
Cujo título seria mais ou menos assim: " Ensinando alguém a ser filho " (sem nenhuma pretencao eh lógico)
Acredito mesmo que vc ajudaria muitas pessoas a refletir e procurar ser sempre melhores!
Que Deus abençoe sua vida e que o Rafa
se espelhe sempre em você!
Eu e minha mana somos privilegiadas por termos filhos como temos!
Sem mais!
Beijos
Tia Rita

Antonio Horta disse...

Obrigado pela dica do livro, Tia Rita! Mas antes eu tenho que conseguir correr a prova!!! :)
Muito obrigado pelo apoio!

Eneida Freire disse...

Ôpa!
Gostei do "escolher uma mulher bonta"!
Hehehe
Beijo, beinS2!

Lilian Caixeta disse...

Vasculhando o blog!!!!
Lindo relato da viagem, me fez pensar em tempo perdido e como é angustiante saber que em tudo estamos (estou) perdendo tempo, mas ainda não sabemos (sei) como parar essa perda. Talvez falta de vontade? O fato é que estamos (estou) deixando o tempo passar e isso não está legal.